DANS L'ATELIER DE LA VIE
Vim cedo para ficar a espreita da morena que prometeu os livros da ex-patroa. Mais uma triste noticia, o meu amigo Junior vai se mudar para o bairro da Forquilha, no final do ano. Também a biblioteca itinerante não virá mais por essas plagas. Uma cena interessante - uma jumenta correndo na calçada e o filhotinho também. O jovem pedreiro Claybon vai para o trabalho para os lados da Feirinha. Faz quase uns seis meses que não vejo o meu querido Tio Willi, a ultima vez que nos vimos foi num domingo, quando decidi fazer o meu recadastramento eleitoral na TRE do Anel Viário e aproveitei a oportunidade para visita-lo na Cidade Operaria. Estava sozinho e bêbado de vinho, entusiasmado com a leitura de livros espíritas, ficou emocionado, emprestou-me alguns. Uma mosca chata insiste em azucrinar-se pousando em varias partes do meu corpo. Será que estou fedendo tanto assim?
- Fala escritor! Saúda-me o Schumacher Oswaldo de sua bicicleta.
Fi8nal de tarde. Depois de alguns dias sem pesquisar na net, entrei para amaciar um pouco os meus olhos e rever os meus livros publicados e expostos no site da editora. Volto para o meu refugio, sento-me na beira do colchão e fico refletindo sobre a minha real situação. Pela manhã passei no Seu Raposo, onde desde a semana passada emprestei uma revista para Tiaguinho que ficou de emprestar-me outra e até agora, todo tempo a esquece em casa. Um silencio frio abate a minha alma. As lembranças tardias de uma felicidade longínqua quando amei Dona Van, a musa das musas. E agora nessa solidão emocional, num pindaíba crônica, debruçado na janela tento arejar os meus pensamentos, mas os bons fluidos tornam-se negativos. Nada que faço dar certo, pode ser o que for, mas não adianta, mas morrerei tentando. Deito-me na cama, deprimido com essa existência - antes havia a maconha que iludia-me enchendo-me de falsas euforias e a bebida na praça. - Vai comer com arr5oz ou com farinha? - pergunta minha cunhada ao companheiro deitado impassivelmente na cama. A partir de amanhã, isolar-me-ei do mundo, somente de casa para o trabalho e vice-versa, na esperança de ganhar algum trocado, especular num jogo na esperança de ganhar uma boa grana e um senhor com uma vida melhor e realizar os meus desejos. Antenor debochado sempre irônico com a sogra que o trata tão bem. Um mês sem procurar ninguém, como eu tivesse preso, nada de praça para ver os papudinhos, nada de mercado, ver até onde posso aguentar. Tudo é supérfluo e falso, as pessoas fingem serem seu amigo e por trás fazem comentários maldosos que denegri a sua imagem. A começar na sua própria casa, futricas e fuxicos para rebaixa-lo. Por esse motivo tomei essa decisão. Os cães ladram e os gatos miam esperando o jantar. O patriarca sem camisa janta sentado a cabeceira da mesa, minha cunhada assando uma galinha no fogareiro no quintal. Os irmãozinhos fazem faxina no Salão - Antenor no computador; - Agora que teu pai já comeu, vou botar cebola e cheiro verde" - disse minha cunhada para Larissa que preparava a salada mas não põem esses temperos. Seu Pietro banha, troca de roupa, perfuma-se e sai para namorar. Companhia boa é que não me falta, tenho quase cem livros para reler. releio Cervantes e Boutefeu Não vou esquentar a cabeça, Deus é o meu guia e nada me faltará, o que for da vontade Dele será. Sair apenas para o necessário. As pessoas que estimo fazem é gozar da minha cara, ironizar as minhas rotas vestes. Talvez abra exceção para visitar o Sr. K na sua lojinha na boca da noite uma vez por semana, talvez o único que apesar de tudo tem demonstrado uma preocupação verdadeira e uma amizade confiável.
COMEÇANDO A HIBERNAÇÃO voluntaria, saindo apenas para ir a oficina na pretensiosa busca por uns míseros trocados. Os estudantes alegres alheios aos meus tristes experimentos. A moça dos livros não apareceu mais. O vendedor de merenda empurrando a cargueira. As professoras conversando seguindo para mais um dia de aula. O ônibus lotado. - " Ela não vai na festa no Cabão, mas todo sábado está lá. - O viúvo Katchengo e o filho. Claybon e o tempo vai passando aos passos de cagado. Conversando com um e com outro, papos sem nexos - o ultimo foi o pedreiro Samuca que foi demitido numa redução. Seu Carlos o borracheiro não esta vindo esses dias, no vinho puro. Uma bonitona veio encomendar um portão, mas tive que despacha-la contando aquela velha estória. Deu-me uma vontade de visitar os papudinho na praça ou passar no Seu Raposo, mas decido que não vou. Nada melhor para se divertir que a leitura de Dom Quixote, sozinho sentado aqui na solidão da oficina, sem nenhum encabuloso para perturbar, os passantes cismados com os meus surtos de alegria ao ver-me entretido nesse livro maravilhoso, lendo esta engraçada e original romance de um homem que enlouquecera de tanto ler sobre os cavaleiros andantes e quer viver as mesmas aventuras e sai pelo mundo a desfazer os mal-entendidos, honrar as donzelas - mas faz tudo aos contrario. Uma saudade do meu velho parceiro de guerra Tio Willi, bom companheiro, enfrentamos muitas loucas aventuras pelas noites dopados de optalidon@. Assisti o finalzinho da "era do rádio" de Allen. Na televisão tudo esta uma hora adiantado, o sul e o sudeste estão no horário de verão e por tabela nos estamos também. Sai as seis horas da tarde para comprar cigarros para minha cunhada que como todas as noite nesse horário leva a sua cadela abusada para fazer as necessidades no terraço e na volta para cata-la.