Na manhã gélida, a chuva grossa desliza em lágrimas de troça sobre a minha face perturbada. Máscara de dor desenganada pelo esgar da solidão vetusta de trágico-cómica que assusta.
Nas ruelas prenhas de poças de água piso feroz, de raiva e de mágoa, lamas sujas de lixo urbano - comunhão perfeita - eu, ufano, mendigo andrajoso repasto do mundo incapaz e me afasto.
Já nem alma tenho! Esqueci para que demo sagaz a vendi. E o coração é só pendular que suporta este vadiar.
Não existem mais noites de sonhos febris, nem dias futuros risonhos. O tempo desfila impotente no vazio de quem já nada sente.