Deslizo pelas sombras projectadas da floresta envolta de prata do luar, elevo-me dos vales às montanhas, aspiro odores envolventes de pinho e das flores silvestres do mato. Atentam-me as vozes das ninfas dos bosques em seus véus de seda que me encantam e me prendem em seu doce abraço de donzelas.
Navego entre mares de tormenta, espicaçados por ventos uivantes, e as ondas teimam em derrubar-me no seu seio como mortalha de agonia. No esplendor da beleza, socorrem-me sereias donzelas cantando melodias que serenam os mares enfurecidos e pousam-me em seus leitos de algas.
Voo, nos anises celestes, atapetado por nuvens em seus castelos errantes, sou um ser alado de difícil definição, mais leve que as vestes das aves. Plano nas brisas suaves dos ventos, evoluo sobre mim mesmo para o sol me aquecer do gélido éter superior e, se me fatigo, anjos me sustentam.
Nas profundezas da terra eu escavo mil túneis entrelaçados dos tesouros mais sumptuosos de metais nobres, diamantes, safiras, quartzos e afins. Penetro em céus e infernos em fogo... Ouço as sátiras do demo e solto o riso, cortejo fadas, trajadas de branco e oiro, e bruxas desgrenhadas de tons carvão.
Sonho? Sonho! não me fujas assim, não me despertes desta madrugada, que me inebria os sentidos e de paz me sacia a minha alma faminta. Sonho! Por favor, piedade, não vás! Não me lances à vida soturna e vil de amores perdidos, das traições... Sonho! Desejo-te! Ah, despertei...