Textos : 

Vivendo & escrevendo - XIX

 


MEIA-NOITE E MEIA - parece vingança, um gato sacana mijou no meu travesseiro. O quarto, os ventiladores ligados, todos dormindo os seus sagrados sonos e um gato desgraçado urina no meu travesseiro e corta o meu barato. Seu Pietro brinca no celular deitado no sofá. Tiro a fronha e o coloco na grade da janela, como se não bastasse o fedor nauseabundo das merdas deles debaixo da cama, a musica brega longínquo em alguma seresta de algum bar ecoa no silencio.

Manhã na oficina assoviando uma canção da cantora argentina que tenho grande admiração e estima Mercedes Sosa, lendo alguns trechos deste caderno. Parei para refleti os meus problemas cotidianos que orbitam constantemente e nenhuma solução. Penso nos meus livros que ainda não comprei que vejo apenas no site da editora. Um tristeza invade a minha alma. без деньги - uma paralisia mental - le temps passe doucement et moi je n'ecris rien. Um ônibus para bem em frente e os passageiro olham para cá - je reste perdu sans savoir. Le soleil s'a caché derrier des nuages. Les oiseaux ne chante pas. L'homme de barbe blanche avec une chemise jaune. Les reves, la vie simple d'un poete sans richesse. Le fou -voilá mon petit monde de tous les jours. sans une femme par baiser ou appellé de mon amour.
- Olha a cadeira! - grita alguém do meio da rua empurrando uma carriola cheia de cadeira de macarrão - Regardez la chaise.

Querido Mestre Balzac

Os seus romances para mim são verdadeiros bálsamos que refrigeram a minha triste e solitária vida. Neles encontro tudo que anseio, assim como nos romances de seu fã, outro grande dignitário da sagrada literatura, o mestre russo de São Petersburgo. Ambos enchem-me de esperança de que devo continuar a lutar pelos meus sonhos literários,mesmo que os ache impossíveis. Leio-o sem cessar, não passo passar sem vocês, recentemente concluir com tristeza o belo "Ilusões Perdidas" - saga dos dois poetas de Angouleme, do velho forreta e vinhateiro Pai Sechard que assim com Grandet não abrem mão de um bom lucro.
Cartas que nunca escrevi;

Amado mestre Dostoievski

Recomecei entusiasticamente a releitura pela terceira vez o seu belo romance "Os Irmão Karamazovi" -братья Карамазовы - toda vez que abro as suas paginas amareladas, vem a minha memória a imagem do meu amado pai Bamba chegando com um exemplar debaixo do braço depois de mais um passeio noturno. Foi o principal responsável do afeto que nutro pelos seus trabalhos. Gostaria de ter todos os seus romances. Papai comprara o seu livro, o numero um de uma coleção de capa dura vermelha com mais de quinhentas paginas numa banca de jornal de um amigo dele na Praça João Lisboa. Não sei qual foi o motivo que o levou a comprar, pois o mesmo era analfabeto, porem inteligente e amante da sétima arte, talvez quem sabe pelos filhos, pelo meu irmão mais velho que gostava de ler livros de bolso que também me afeiçoei e líamos junto vários por noite deitados em nossas redes armadas no sótão onde dormíamos
Bem que poderia escrever assim um livro com essas cartas imaginarias aos meus escritores favoritos.
Caro Senhor Daudet

Fiquei feliz ao ler o seu romance em francês "Le Petit Chose", pois até então não o conhecia. Foi por acaso que o vi abandonado e rasgado na beira da capa, jogado sobre os outros no tabuleiro de uma banca de livros usados na Avenida Magalhães de Almeida numa tarde que fazia bico como digitador e colaborador no hebdomadário Extra e estudava a vossa língua sozinho nas horas vagas na pequena oficina de serralheiro onde trabalho.

Prezado Senhor Cervantes

Desde que me entendo como gente, sempre ouvia alusões a esse seu magnífico romance que sistematizou a literatura moderna.

Quase meio-dia arrumei as gavetas da cômoda colocando as bermudas e calções numa gaveta e na outra as camisas. Talvez eu enverede pelas cartas aos meus amigos escritores.

meio da tarde - para não perder as habilidades datilografei duas paginas na minha velha e boa Olivetti - tropical - Sinto- me feliz em ser um escritor a moda antiga - de voltar ao meu passado longínquo e rever as cenas que vivi com a minha família. Professor saiu para a sua caminhada, Larissa prestativa chama o seu cunhado para merendar. Ontem de madrugada levei um susto ao levantar-me para ir ao banheiro e depare com sua figura solitária no computador. "Meu Deus" - pensei comigo mesmo – “essa menina esta muito viciada em internet. Ela não sai mais de casa”.
- Dona Dadá cadê Carlos? - Perguntou Antenor depois da merenda - Cadê Seu Eusébio José Rodrigues?

Fecho a janela com a chegada da noite e para evitar que os gatos pulem para o terraço, onde o pegador Pietro co0nversa ao celular com uma de suas paqueras. O pobre do Alan dormindo sobre o papelão entre as raízes da desgalhada Barricudeira, ébrio como sempre, a cara ralada numa aterrissagem malfeita, dizendo que foi numa pescaria no Porto da Vovó a margem do rio Bacanga. O mercado fechado devido ao feriado do dia dos comerciários sentei-me num dos bancos e fiquei alguns minutos lendo Balzac até as luzes dos postes acenderem. Um cão faminto revirava uns sacos de lixo, um gato magro atravessava tranquilamente a rua indo na direção da horta do meu amigo Catavento que pela manhã deu-me os galhos de vinagreira roxa e uma sacola de cheiro verde com cebolinha. O encerramento da leitura de Eugenia Grandet - minha sobrinha-neta Brunielle fez-me uma pergunta interessante: Quantos livros, o senhor já leu? - Acho que quase uns quinhentos. A minha primeira biblioteca chegou a ter quase uns cento e poucos livros, agora possuo uns cento e dez, todos lidos e relidos periodicamente.

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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