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Vivendo & escrevendo - XVIII

 
DO QUARTO DO CASAL vem o som da televisão sintonizado naquele desenho animado simples que virou coqueluche entre as crianças - Peppa. A Adrielle a rebelde o assiste com frequência. Brunielle, mais velha com catapora (que minha cunhada insiste em dizer que é bexiga de galinha), as vezes perde a paciência com as coceiras e se dana a lamentar, gritando impropérios, dizendo que quer se matar outras baboseiras. Um sol radioso. Minha cunhada fazendo a faxina no quarto. Tia Nana, a genitora do factótum veio lavar as calças dele. Continuou espirrando. Quinta-feira pela manhã, abri a oficina e uma senhora baixa, morena que trabalha como domestica na casa de Seu Berto parou ao ver uns livros que deixei na calçada enquanto suspendia a porta de rolo.
- O Sr. gosta de ler. Ganhei foi muito livro da minha ex-patroa que era muito romântica. Vou trazer uns para o sr.. - Desde então estou com uma pulga atrás da orelha, deixei passar a oportunidade de propor ir a casa dela. Então a minha cabeça não para de pensar nesse assunto, deu-me vontade de ir ao seu trabalho - mas deixe pra lá. Termino releitura de "Noite Brancas" que intercalei com algumas paginas de "Os Últimos Dias de Charles Baudelaire" do franco-angelino Henry Levy e agora retorno a Saumur no interior da França em companhia do forreta Grandet.

Dez e meia da manhã. Tia Fleur na área, minha amada cunhada Dadá na beira do fogão, a panela de pressão cheia de pedaços de galinha. Larissa sentada na cadeira de balanço catando um de seus gatos enjoados. Antenor com os fones no ouvido, sem camisa sentado na mesa da sala de jantar. Adrielle deitada na cama do casal. Seu Pietro impassível no computador. Eu degusto com prazer "Eugenia Grandet, antes porém coloquei Vick-vaporub nas narinas.
- Meu nome estava no SPC? - Indaga Tia Fleur no telefone fixo. Um vento aflora os meus sentimentos. Estou numa situação deplorável, o que me salva são os livros que releio constantemente, há mais de seis meses que não compro um misero livro, fico depressivo é a minha única diversão.

BRUNIELLE PEDE-ME a maquina de escrever, tiro-a do guarda-roupa e traga-o para a sala, coloca-a sobre uma cadeira de plástico. Ela se senta na outra cadeira, coloco o papel no rolo - então ela começa catar milho. Quando vi os que datilografei do ano de 96, deu-0me um a vontade de fazê-lo como antigamente. O Patriarca telefona do mercado onde bebe com seus parceiros tradicionais, quem atende é tia nana que passa ao factótum e pede para que o mesmo, apanhe um restolho de um uísque no armário e leve para ele. Coloquei as letra "a" nas palavras - deixei a maquina sobre a escrivaninha a qualquer momento voltarei a trabalhar nela. Ouço o magnífico Beethoven na sua bela e nervosa quinta sinfonia - a panela de pressão a todo vapor, minha cunhada chegou ainda pouco da feirinha onde em companhia de Tia Nana fizeram as compras. Die Walkire do grande Richard Wagner. O corpo pede uma volta para espairecer um pouco as temeridades de sempre. Os Karamazovis me acompanham nessa singela manhã dominical. Larissa me mostra um bolo de cabelo que escovou ontem de suas madeixas. Cada dia me surpreendo-me com o meu chegado Sr. K, provando que é mais que um amigo, um irmão. Além doa muitos favores que já me fez, hoje deu-me uma bermuda que há alguns dias vinha namorando-a. Valeu. "O Sequestro do Metro123" um filme tenso com o velho John Travolta como o sequestrador chefe, uma bela interpretação desse ator que comecei admirar desde "Os Embalos de Sábado a Noite" - um filme que me marcou muito que assisti no velho Cine Éden.


 
Autor
r.n.rodrigues
 
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