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Vivendo & Escrevendo - XVI

 
COMO ACONTECE todos os santos dias, minha cunhada começou a amanhã matraqueando as suas ofensas para todos os lados. Um sonho esquisito que meu filho virou um passarinho preto que me acompanhava, teve um momento que um pombo quase bicava a cabecinha dele - andávamos por uma ruas escuras e quase fomos assaltados por uns três adolescente. Fui comprar umas serras e brocas para papai furar uma peça no Tirirical. Uma polêmica entre Antenor e Seu Pietro por causa da Internet no celular de um deles. Quase uma semana sem acesso a www. Todos nervosos, menos eu que vou passando o tempo até ter um novo projeto. Basta para esse ano, conseguir realizar alguns deles e ainda não comprei nenhum. O silvo da válvula da panela de pressão. Lia uns trechos de "Pé na Estrada"
- Eta Pietro, derramou esse horror de bolacha - esbravejou calmamente minha cunhada para o seu factótum que merenda sentado na mesa da sala de jantar.
- Não só duas que caiaram de minha mão - responde na maior cara dura.
Não fui a oficina, comprei pão na Padaria da São feliz. Praça descarnada do Bacurizeiro, o trio estava sentado num banco a sombra de uma amendoeira desbastada. Gato guerreiro a feição de doente, Alan meio-zonzo e o grande Matraquinha, todos afoitos por uma dose. Não demorei muito, a passagem em frente a lojinha de Sr. K. que estava sentado na cadeira de macarrão por trás dos manequins e a mãe, uma enorme loura simpática com um sinal no nariz conversava com um motoqueiro. - Buenos dias, mi amigo Sr. K! - Oi! Meu amigo poeta - levantou-se e veio até a mim, apertou a minha fria e suada mão e deu-me um efusivo abraço cordial. Na pequena lanchonete do canto da porta do mercado, Seu Zeca-Zeca, topografo aposentado merendava uma banda de mamão sentado numa cadeira de plástico. saudei-lhe como de costume e perguntei-lhe a diferença entre topografia e agrimensura . Explicou-me sucintamente. e retornei a base, li uma revista Tex, minha cunhada limpava os meus aposentos, desmontando a cama e trocando o lençol encardido. Não me canso de rir das atrapalhadas e as molezas que o valoroso e incansável Cavaleiro da Triste Figura leva com suas visões deturpadas, vendo inimigos num tropel inocente de ovelhas e a antológica cena hilariante no albergue que pensava ser um castelo, causada por um mal-entendido pela marota Maritorne, asturiana de olhos tortos camareira. Minha monótona e ociosa vida apenas comendo e dormindo, uma preguiça louca. O nariz entupido e sem nenhuma boa novidade. Je relis le livre de Roger Boutefeu "Je reste un barbarie"

AOS POUCOS VOU me preparando para ir a Unidade Mista apanhar a cartela de comprimidos. Marco os números da Quina jogando todas as minhas esperanças que um dia com a graça de Deus eu ganhe e sairemos desse sufoco que nos aperto todos os dias. As princesinhas chegaram ontem a noite trazida pela mãe na garupa da moto da avó. Bruniele a mais velha esta com catapora e trouxe seu diário. Minha cunhada conta as mesmas historias de sempre, as princesinhas enfurnadas no quarto escuro de Larissa assisto um filme na SKY. Eu lendo Julio Verne "Uma Ilha Misteriosa" que comecei ontem na boca da noite. A Unidade Mista estava em ebulição, pacientes aguardavam a vez e murmurando entre si. A lourona das pernas Grossas desfilava de um lado para outro como uma barata tonta numa apertada calça jeans. As enfermeiras e as auxiliares apressadas zigzagueavam no meio da plebe. O enfermeiro Valdivino veio chamar e segui-lo até o consultório. Na Casa Lotérica poucas pessoas e não demorei muito para ser atendido, quase me atrapalho, mas me recompus e apostei meus únicos dois reais sonhando em ganhar milhões ou no que Deus achar que mereço. O cunhado zangado de Seu Pietro traz a mangueira plástica que pediu emprestado para minha cunhada. Estou gripado e espirrando tanto que o nariz dói. A noite se aproxima. A visita inesperada da companheira de Danilo, a loura Samara que veio de moto da sogra. Improvisei um lenço, tirando do bolso de uma bermuda velha. Brunielle impaciente com pico provocado pela doença se coça sem piedade e esfrega na parede.
- Tem na piriquita? Pergunta ironicamente Samara que quase não fala com comigo, alias ninguém dirige a palavra pra minha pessoa. Todos me ignoram. O Chefe do Clã chegou de sua caminhada vespertina, saúda carismaticamente as pessoas presentes e confabula no quarto com a minha cunhada sobre o jantar e decidiu mandar comprar pão pelo seu factótum. Bebo uma infusão maluca que minha cunhada preparou com vários ingredientes, o gosto forte de alho. Bruniele enrolada no lençol e deitada na cama.


 
Autor
r.n.rodrigues
 
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