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Vivendo & escrevendo - XIV

 
HÁ UMA ANOS ATRÁS fui agredido covardemente com uma facãozada nas costas quando bebia tranquilamente com a rapaziada na Praça do viva, um doidão do residencial América do Norte acompanhado por Pelado, irmão de Tuiu apareceu com um facão agredindo as pessoas, botando primeiro Alan para correr debaixo de panadas de facão até o portão do mercado e na volta, deu uma na costa de Mano Brown que estava sentado na minha frente e na passada uma na minha que me torci todo de dor. Mas deixa pra lá, Deus o encaminhe para o seu destino. Um irmão do Salão do Reino vermelho como um camarão bate palme na porta, deixe-o esperando antes de atende-lo. Despertei de madrugada com as brigas de minha cunhada com o companheiro boêmio que pela manhã reclamava de dores no pescoço e de tarde caiu no álcool. O sol banha as minhas pernas e os seus raios inclementes juntamente com a brancura destas folhas encadeiam a minha míope vista. O computador está lá sem ninguém a usa-lo. Seu Pietro foi visitar o pai na clinica, onde faz tratamento para desintoxicar do vicio de crack. Danielzinho e família, a companheira Kika ajuda a"sogra" nos afazeres domésticos na preparação do sagrado almoço dominical. No rádio as mesmas musicas desse mesmo horário. A neném deles dormindo na cama do casal. Estou sentado a sombra esparsa do arbusto da romãzeira. Adrielle brinca silenciosamente com a bonequinha que ganhou de presente de Seu Leci, quitandeiro do mercado. Alguém bate os ovos para a torta saborosa torta de carne moída e salsicha que Danielzinho trouxe. O carro, um Dobló da Fiat estacionado em frente a calçada, pertencente a firma do cunhadinho de Daniel, onde desempenha a função de motorista. Professor chega silencioso com uma sacola com uma garrafa pet de Coca-Cola, abre e fecha a cancela com violência. Minha azafamada e agoniada cunhada o recebe xingando-o, chamando-o como de costume de cretino mentiroso porque o mesmo disse ao celular que não tinha dinheiro para comprar um maço de cigarros - Cara de bosta - completou. Um calorzinho com ventos abafados. Sai novamente calado. Deu uma veneta de digitar este caderno, ainda reiniciei o computador, mas depois veio aquele característico desanimo que sempre me maltrata. Bocejo. O corpo todo dolorido.


UM ANO SEM A GRANDE a matriarca. Que Deus a tenha num bom lugar ao lado de seu companheiro Nhó bamba, primeiro e único. estou pensando em arquivar os textos de "Eu, tuberculoso". O cheiro de lixo que jogaram no beco. Acordei cedo e antes de abluir-me coloquei a bomba d'água para funcionar; - "Olha a desgraceira que fizeram - reclama a esposa de Seu Biné - "Cristão não faz uma coisa dessa - disse para o filho com os sacos e a pá nas mãos. A mente ainda embaralhada, o canto de alerta do bem-te-vi. A esposa de Seu Biné, meu vizinho do lado esquerdo varre e ajunta o lixo do beco com a cara amarrada e zangada; - Poeta - grita Marcelinho pretinho filho do carroceiro maneta Mariano ou Marujo com uma corda na mão: - Eh! Seu Raimundo! - cumprimenta-me Seu Zé Puro, o pedreiro, antigo morador da Rua 24. Seu Drácula, o pedreiro e carroceiro contando-me as novidades de um trabalho na casa de Dona Van e aparição inesperada do Professor Murilo emérito mestre do corpo docente do Colégio América do Norte que vai trabalhar com ajudante de pedreiro na casa da sogra dele. Fernando corendo olhando para trás como tivesse cometido alguma esparrela e alguém o estava perseguindo. O calção frouxo caia-lhe da cintura deixando à mostra a regada da bunda preta que suspendia nervosamente. Os alunos não foram as aulas. Da Galera sentado ao meu lado, poeticamente calado com a mão esquerda apoiando o queixo esta no cotovelo sobre o joelho da perna direito. A água jorrava fluidicamente na sarjeta, carros subiam e desciam a avenida - o mundo pequeno mundo meu, de todos os dias, as mesmas coisas, sem tirar nem por - apenas Saramago relatando a sua versão sobre vida de Cristo humanizado, uma bela daquelas que vão religiosamente a academia no desejo de tornar-se mais atraente aos nossos olhos.. Não adianta espremer os meus miolos na inútil tentativa de extrair alguma coisa boa e isso me deixa arrasado. Porque sempre acreditei que fosse capaz de escrever o que bem entendesse no momento que quisesse, mas descobri que não funciona assim - nasci par escrever esses cadernos que acumulam-se no guarda-roupa - todos uniformes de capa duras de cores variadas. Não sou um ficcionista, de criar um estória - eu as transcrevo do meu dia-a-dia, das incansáveis leituras, das observações cotidianas - então surto de raiva por não compreender por ser tão relaxado e preguiçoso se começo não termino. Se inicio aborto-o no meio. Por que sou assim? Nem eu consigo entender-me e vivo em constante conflito comigo mesmo. O sol desapareceu silenciosamente e no horizonte distante enquanto eu dormia e sonhava com o,livro de Rushdie,a sua heroína, a tresloucada Aurora da Gama que casou-se aos 15 anos com um judeu de trinta anos mais velho, amanuense da firma familiar. Agora desperto e banhado, pronto para a sonda noturna pelos arredores do mercado, para tagarelar idiotices com algum conhecido. Apanho "Notas do Subsolo" do meu mestre amado Dostoievski para acalmar os impulso e assim apaziguar-me ao menos por alguns instantes. Sento-me na beira da cama, enrolado na toalha, o corpo exalando um sabonete barato, o som de um filme vindo do quarto do casal, os gatinhos recém nascido, outra ninhada miam baixinhos. leio algumas paginas, apascento a minha lama, não necessito sair para arejar os pensamentos - levanto-me visto o meu calçãozinho preto de listas brancas sujas com o cheirinho característico do meu corpo, estendo a toalha no varal perto de uma camiseta preta que ganhei de meu amigo Junior, neto de seu Eriberto por participar de uma palestra na faculdade do Ceuma.Mas isso nada me demove, porque quero escrever mais um livro e baixar o facho, esperar o próximo ano - penso em fazer uma colcha de retalhos com textos interessantes que escrevi nesses cadernos ou já datilografados dos anos 80. Tudo por um capricho tolo de querer por querer encher o espaço da pagina do site onde jazem quatro livros de minha lavra publicados e pasmem nenhum vendido. Vou ao quarto do Patriarca e sem olha-lo, apanho o exemplar da revista Veja, da qual é assinante e recebe todas as segundas-feiras. Os mosquitos voejam, a motocicleta com sua buzina do vigia-motoqueiro na sua ronda noturna pelas ruas demonstrando aos seus clientes que esta trabalhando e vigiando para a segurança dos mesmos. Seu Pietro ao celular no escuro da sala, deitado no sofá, ludibriando-se a si mesmo. casal deitado, talvez dormindo, a musica brega enjoada ecoando no silencio. Talvez eu esteja no caminho das pedras descobrindo particularidades ainda recônditas. Ao ler Rushdie percebo que nunca serei um grande romancista, a minha inteligência é muita curta, meus conhecimentos parcos.

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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