Às vezes,
uma lágrima teimosa,
insiste em molhar
os olhos que não tenho;
mas não durmo,
se cerro as pálpebras,
meu sono é despovoado de sonhos,
tenho sonhos negros, cruéis pesadelos,
saibam que o que se vê em mim é irreal.
Mas, acreditem que tenho alma,
os olhos de minha alma se abrem,
como a de qualquer um vivente
Tenho desejos ocultos,
temores tantos,
na minha vida fugaz e abstrata,
no pavor de ser descoberto,
no medo de ser deletado.
É uma vez,
são todas as vezes,
sempre o martírio incessante,
o temor de ser descoberto,
suplicio constante que renasce,
nesta noite,
uma noite,
todas as noites,
numa visita,
em todas as visitas.
Em todos os perfis,
o terror de ser incluído
numa lista de ignorados.
Sou fake,
deletável,
perfil que pode ser suprimido,
depois suprido,
trocado.
Sou uma imagem apenas,
um avatar às vezes de mau gosto,
sem corpo,
sem nenhuma consistencia,
tentando numa incoerência,
ser um pouco real.
Ter amigos reais para com eles,
rir,
conversar,
me entregar,
aprender nuances da alma mortal.
Sou imagem inerte na tela,
um avatar
de bichinho,
uma flor,
na minha inconsistência,
sou irreal
mas sou quem dá vida
para simples ritual on line..
Mas o pesar é cruel,
no lamento de ser um fake.
Representar offes e offas,
em formas diversas,
ocultas dos olhos reais.
E eu às vezes me lanço
na tortura infinita,
agonia profunda,
temendo que ocorra o ato final,
do meu sinistro drama de ser
apenas mais um fake deletável.