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Vivendo & Escrevendo - XI

 
ELEITO O NOVO GOVERNADOR do estado, meu candidato a deputado estadual Seu Lacerda conseguiu apenas quatrocentos votos segundo disse-me a esposa dele Dona Belina, filha de Seu Sardinha que estava em pé na parada de ônibus. A figura carismática de Seu Moreira, o senhor galanteador que pendurou as chuteiras depois do relacionamento conturbado com Dona M. Choveu de manhã cedo. Dedé, o Betoneira filho de Seu Bastos ainda ressabiado do grogue pesado de ontem, prometeu novas cartelas de remédio psicotrópicos. Seu Costa, o barbeiro vizinho do lado, brinca com a netinha na calçada. Bom dia! desejou-me Seu Cominho apressado com um embrulho debaixo das axilas, indo para a sua oficina de pintar geladeira. A pequena Alexandrina, irmã menor de Seu Valter dar um alô fraco com os jornais que vende de porta em porta. A irmãzinha morena baixinha da bunda grande e seus filhotes, que sempre me cumprimenta Ei irmãozinho! Um caminhão carregado de vários milheiros de tijolos. Na mente a melodia de 'Por una cabeza' - não consigo lembrar-me do nome do ator que interpretou Moisés e Ben-Hur - uma caçamba pesada carregada de areia. Um vento morno varre as poeiras do asfalto. Uma senhora morena e suas duas filhas, uma delas puxando um carrinho de compras vazio. Um gato arisco atravessa velozmente a pista. Um sonho muito louco com a governadora que havia lido a reportagem sobre o meu livro francês e queria muito conhecer e outras besteiras que não cabe aqui relatar. Hugo o rapaz que trabalhei um tempo fazendo um bico na lan house pergunta-me como faz para publicar um livro, explico-lhe sobre o Clube de Autores. A bela da Rua 23 perfumada até a alma vai ao centro, apanha um lotação. Uma caçamba manobra para entrar no terreno da Madeireira Bastos e descarregou uma carrada de areia. Ayesha líder peregrina muçulmana da pequena aldeia indiana de Tilpur que fez hajda - oficial britânico Burton que serviu durante vários anos na Índia fez também um hajda do Cairo a Meca. E a bela Blimunda, a leitora - Raimundo Silva, o revisor no passeio de Lisboa. A magrinha Sonia rolando a bolsa nas ruas escuras de Petersburgo. A bela e recatada Ana Karenina na solidão de seus problemas conjugais. O velho forreta Pai grandet desfilando por Saumur. Aliocha Karamazovi ouvindo atentamente o stariets Zossima, a esplendorosa Gruschenga; Sr Sam Weller e suas tiradas filosóficas; Cândido abismado pela beleza e depois a feiura de Cunengode; as traquinagens do esperto menino Tom Sawer; o medo do pequeno Nik Adams solitario no acampamento a beira do lago Michigam.; Roskolnikov irascível maltrapilho falando só na beira do rio Nieva. O belo poeta Luciano Chardon na beira do Rio Charente em Angouleme armando corda para se enforcar. E o incansável Dom Quixote cantarolando nas penhas em nome de seu amor pela formosa Dulcineia del Toboso e o sábio Sancho Pança montado no seu burrico todo estropiado depois de ser manteado no albergue, a cena engraçada da confusão generalizada ocasionada por Matriorna. Uma saudade da triste figura vou relê-lo assim que chegar em casa. Pena que o meu amigo perdeu o volume II - Sthephen Dedalus perambulando a esmo pelas ermas ruas de sua amada Dublin. Mi gusta mucho leer los bons libros, elles son mis sueños de toda mi vida. As estórias de Dom Quixote e de Raimundo Silva me fazem sonhar comigo mesmo com meu empacado no segundo capitulo onde acrescento algumas palavras,pensei em escrever outras, mas minha mente não suportaria tamanha carga mesmo assim vou tentar. Adrielle com uma variação de catapora. As ultimas paginas do Cerco de Lisboa. Olho reflexivamente para os meus ícones em preto e branco, dois gênios de estilo e de épocas diferente. Oro para eles pedindo inspiração.


COMO ESCREVI saudade de Dom Quixote era tão grande e graças a Deus eu o tenho para rele-lo quando quero. Então iniciei "As Ilusões Perdidas". Na oficina, entro em colapso, aquela velha neura de abandonar o que comecei. Saramago genial - talvez na quinta quando for entregar os três livros e apanhar outros, trarei um exemplar dele. Depois que a Biblioteca Itinerante do SESC chegou na vila tive oportunidade de ler livros que imaginei que nunca iria lê-los - Logo no primeiro encontro, o santo graal "Ulisses" do mestre Joyce, esse sonhado livro que busquei por vinte anos, assim com "Os Sofrimentos do Jovem Werther" do grande poeta clássico alemão Goethe - e assim vieram outros; "Germinal" do francês Zola que iniciou o naturalismo;. "Os Versos Satânicos" do indiano Rushdie; o premio Nobel sul-africano Coetze "O Mestre de Petersburgo"; o reencontro com o mestre colombiano, também Nobel Marquez nos maravilhosos "Doze Contos Peregrinos"; o alemão Herman Hesse em "Sidarta"; "Os Contos de fadas Russos" e o clássico moderno "24 contos de Fitzgerald" - esse notório escritor americano do começo do século XX que morreu novo na efervescente Hollywood segundo o ator britânico David Niven vitima de tuberculose. Agora posso voltar a La Mancha. Budy levou uma grade de janela para ajeitar e deu-me um adiantamento de vinte reais para comprara os materiais necessários. Soldei um chumbador, mas a dona ainda não pagou-me. Aos poucos vou retornando ao ritmo do trabalho, esta é a minha profissão. Minha Cunhada preparando o almoço. Seu Pietro desempregado de volta ao computador após trabalhar na campanha vitoriosa do governador eleito Flavio Dino. Larissa foi para o campo - comprei presunto. Quero escrever, publicar outro livro. A fome bateu forte enquanto lia Dom Quixote na árdua luta contra o biscainho, escudeiro de uma donzela. Tentei em vão escrever livremente, mas empaquei como sempre. Problemas para todos os lados, água ainda não chegou, minha cunhada não resolveu o seu divorcio, professor discute com um subalterno. Uma irmãzinha dentuça e franzina do Salão do Reino bate palmas pela segunda vez para entregar as chaves que pegaram ainda pouco. E assim vamos caminhando bem devagar, todo o peso nas costas de meu mano mais velho e minha cunhada sempre de mau-humor, gritando alto, arreliada, estressada e agora gripada.. Larissa e seus problemas existenciais e eu com os literários, sem saber o que fazer. Um belo retrato dessa maluca família, queimando os neurônios para escrever algo de bom, releio todos os clássicos disponíveis, mas a mente não ajuda mais, totalmente bloqueada. Meu e;mail bloqueado e sem previsão para ajeita-lo. Minha esperança era Seu Pietro, mas esquiva-se de qualquer compromisso. A barriga cheia, mas uma fomizinha pertinente. Essas horas ociosas que disponho fossem aproveitada, mas a preguiça é grande e não produzo nada. E ainda reclamo de mim mesmo.


 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/12/2015 20:40  Atualizado: 27/12/2015 20:40
 Re: Vivendo & Escrevendo - XI
Bravo!