A vida é feita de encontros e desencontros
Uns se encontram no desencontro
Outros se desencontram no encontro
É feita de dar e receber
Uns recebem sem dar
Outros dão sem receber
É preenchida de ditos e não ditos
Uns dizem sem dizer
Outros não dizem dizendo
Completa-se de dias e noites
Uns anoitecem os dias
Outros amanhecem as noites
Integra ires e vires
Uns vão vindo
Outros vêm indo
Engloba quereres e não quereres
Uns querem não querer
Outros não querem querer
Sempre traz em paralelo, o ser e o não ser
Uns são não sendo
Outros não são sendo
É um conjunto de aparências e ilusões
Uns se iludem nas aparências
Outros aparentam iludir-se na ilusão
É no fundo feita de contradição
Que te cria adição
E te conduz ao caixão
Sem qualquer certeza em mão
Assim mesmo que o atrever reverta
Encontra-te no encontro
Dá muito e receberás outro tanto
Diz o que deve ser dito
Cala apenas o que não precisa de palavras para ser entendido
Amanhece como se estivesse a anoitecer
Anoitece como se quisesses ver o dia nascer
Quando fores vai e atreve-te a ir sem não vires
Quer com força e vontade enquanto não te doer de tanto querer
E sê, sê sempre e nunca te arrependerás de não ter sido
Dessa forma nunca te iludirás de aparências
Ou aparentarás iludir-te na ilusão
E o intervalo “do berço ao caixão”
Deixará o orgulho de ter feito o que deveria ter feito e ter dito o que deveria ser dito
Ilia Mar