Poemas : 

Os Fins

 
Agora, as partilhas findaram-se,
pois o tédio das exatidões
formata os dias e os poemas iguais.

Findaram-se as vigílias, pois o tédio
dos corpos e dos enigmas decifrados,
formata as noites de desejos apagados.

A nota única que um piano repete
insiste que o azul,
que a noite preserva,
um dia voltará.

Mas a fadiga interrompe as mãos
e o piano é silenciado.

Todos os dados já foram lançados.



Lettre la Art et la Culture


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Blog - Versos Reversos

 
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FabioVillela
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/12/2015 02:40  Atualizado: 23/12/2015 02:40
 Re: Os Fins
É compreensível e de certa forma meio divergente: Quase aceitável se não fosse a alma que cria de uma teimosia ilógica.

Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 29/08/2016 08:22  Atualizado: 29/08/2016 08:22
Da casa!
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Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: Os Fins
As rotinas criteriosamente seguidas (e intermináveis) formatam “os dias e os poemas”, fazendo com que estes fiquem monótonos e “iguais” num “tédio” de “exactidões”.
O mesmo tédio finda as “vigílias” “dos corpos”, quando os “enigmas” parecem já ter sido todos “decifrados”, não havendo lugar para mais “desejos”.
“apagados” os desejos, findadas as “partilhas” que mais une estes dois corpos?
A resposta surge nesta estrofe:

“A nota única que um piano repete
insiste que o azul,
que a noite preserva,
um dia voltará.”


Esta “nota única”, infindavelmente repetida num piano, também lembra a ideia de enfado anterior, mas aqui a nota é feita de esperança, insistindo “que o azul” “um dia voltará”…
Resta, então, escutar o pianista e trazer o azul para a noite (e para o dia), adicionando novas notas que enxotem esse tédio já bem enformado.

“Mas a fadiga interrompe as mãos
e o piano é silenciado.”

(diz-nos o poema)

findando, assim, a possibilidade de um azul voltar a unir estes dois corpos condenados ao tédio por fadiga de continuarem em busca do azul.
Estes são “os fins” ou, melhor, os sinais de um Fim em que “todos os dados já foram lançados” e as peças se afastam irreparavelmente desse tabuleiro que as fez partilhar um espaço comum.

Fantástico poema.