Na diagonal, vi quando o leal colibri
escovava o gramado celestial,
do topo da geladeira duplex
esquecido como pinguim coxo,
débil mental, sem bico e depenado.
Repousando casual, mirando a varanda de pedra
cantava enlevado em tom fraternal
loas do amor desigual não resolvido
ao esqueleto do armário verde retorcido.
Lá fora havia o dia bestial,
manhã dormente de chuva fria
tremulando a fé nas bandeiras
gentil com as senhoras nas cadeiras.
Mas nada resistiu ao ataque da fé,
quando o pano azul cordial cobriu o tabuleiro
e a noite fez-se gentil em sombras anis
condoendo-se do dia cansado de lutas.
Como tantos outros também tive
forças orgulhoso do excesso de dias
os raios da esperança enfraquecidos
passados embaixo das assas das moscas
paladinos perdendo vestes doiradas
surgindo indecentes com roupas rasgadas
sorvendo drinques de taças cor de rosa
deixando transparecer a borda marrom
dos debruns de desfaçatez obscena.
Como tantos outros tive lembranças amargas
vendo triste que foi mesmo impossível
fazer com que o sonho bebesse ansioso
sobre cinzas das promessas carbonizadas
reconhecendo a vitoria da imoralidade
sob o influxo das curvas de níveis
esquecendo o áspero sabor do vinho
como único resultado ao longo do caminho
ora findo sem alcance por força do hábito
desde os primórdios nos lagares da ira
até a última gota ouvindo o som da lira
tangida triste nos quatros lados da tigela.