No silêncio da minha cama fria,
na loucura do meu quarto sem sentido,
na tristeza da minha casa tão vazia,
caminho passo a passo, em vão, perdido.
Bóiam tantos mortos em torno a mim ...
E oiço alguém desamparado que me fala comovido ...
Alguém que olha com olhos de jasmim,
cujos olhos, cortam o silêncio, como um grito ...
Sua face, escavada, adornada
de solidões ardentes, quase morta,
coberta de cansaços e mais nada,
lembra casas como a minha já sem porta.
Seus olhos de descansos por viver,
de pálpebras frias, pesadas, sem nada,
choram lágrimas de pedra, a arder
em corpos de andorinhas, sós, paradas.
Seus lábios coam água de seus olhos,
sua voz, azeda, balbucia solidões,
o destino, esse, quem lho deu, cheio de escolhos,
cansaços de amargura, tristeza e podridões?!
Nem sei que diga ante dor que é tamanha!
Que triste desencontro! Eu lamento esse dia
que se prende no meu peito, que me apanha,
sempre que escrevo no papel uma poesia!
Ricardo Maria Louro
Ricardo Maria Louro