De frente ao espelho passa-me pela mente a imagem de Dorian Grey,
meditabundo, mirando frontal o retrato rememorando desejos antigos.
Não estou presente no res da mansarda miserável, mesmo longe que sei,
o que forjica no subconsciente depravado, soer desprovido de amigos.
Nem afago de mão sedosa! Uma palavra...nada que fuja puído ao tédio,
nessa justa solidão não consentida, nem almejada, sequer negro gato,
a lamber os bigodes perto do nariz congestionado, sem nenhum remédio,
marasmo só arrebentado quando ouve bater o próprio coração timorato.
Vertendo lágrimas olha o retrato e vislumbra um anjo c’alma d’um rato,
assustado roedor, embora ruja como o leão que nunca foi neste mundo,
do infinito transcender desse incidente não foi adrede feito um relato.
Posto-me a favor do vento, ao longe para que não me venha às narinas
o odor pestilento que emana do buraco que diz ser casa, covil imundo,
aura do decrépito retrato que envelhece enquanto esbalda nas rotinas.