<br />Tuas palavras parecem indícios,
sinais nos caminhos,
chaves nas fechaduras,
segredos de cofres,
senhas,
faróis acesos na escuridão
anunciando torres ocultas...
E através delas eu te sinto
de uma forma única,
como se ao te estender as mãos
tu nelas depositasses
a tua mais secreta e íntima verdade.
Assim, eu te senti revelado
num momento de estranha beleza,
dizendo que ninguém mais
compreenderia ainda estarmos falando...
Continuo uma confidente exclusiva,
uma irmã parceira que tem contigo
um pacto de secretas trocas.
Mas do que falamos nós dois?
Nós desenrolamos solidões
em palavras mansas,
gritamos desesperos
em suaves imagens de impossibilidades,
misturamos nosso suor e sangue
por metáforas,
nós nos sentimos tocando
as feridas até o sangue escorrer
e as lágrimas verterem incontroláveis.
Tu te revelas a uma pessoa
a quem perdoaste inda agora,
por quê?
E dizes que não há sentimento
verdadeiro entre duas pessoas
que nunca se viram?
Acima dos nossos erros,
da nossa falibilidade,
paira esta vontade de ser com o outro,
do encontro que abranda as solidões,
do fascínio das palavras acariciantes!
Viento sur?
Uma sede?
E tu não sabes o que é...
... e eu saberia?...
Tu me deixaste suspensa
por um frágil fio...
Tu me enredas nesses teus
paraísos momentâneos...
ah meu querido, e ainda me perguntas,
"para que viver?"