Tão rápida a vida, apenas um raio
Tudo pára, me corta com cinzel afiado
Raio, mês de maio, felicidade atalhada
Comeram meu raio num grávido desmaio.
Que balaio fundo, que vida esticada
A gente dorme em ninhos ariscos
Enxaguaram meus olhos, ficou o cisco
Enveredou-se de mim, levando meu circo.
Ali mesmo na praça, a vida enxeriu-se comigo
E de tanto fazer nada, cansou-se e dormiu
Quebrado-se como vidraça pra juntar-se depois
E fico, a saber: por onde anda minha graça.
Nasci naquela serra do Raul que assa
Cavalguei meus sonhos, criados em mim
Sou ponteado de mil Soares de massa
Vivo como rocha milenar que ninguém tira.
Adormeço e escapo nesse parado balanço
Que a gente não vê, mas está girando em nós
Petrificando formas, construindo nossas alianças
Vida ainda acredita que vai tirar dos nossos dedos.
Meu coração cisandino, bate acanhado, ritmado
Nas tardes no cio, quando durmo ao seu lado
Pensando em reproduzir-me menino, talvez no colo
Onde seu respirar será meu eterno acalanto
José Veríssimo
Tem certo dias.....