Queda a noite feito um bêbado. O vento sacode folhas amarelas. No horizonte um ponto prateado Uma moça repousada na janela.
Ainda não sabemos quem é ela. Nem quem possui seu coração. Sabemos que ela era a mais bela E a mais querida daquela região.
Poderíamos chamar-lhe Estela, Laura, Isaura ou mais uma Maria. Mas não faríamos isso à poesia. Dizendo a verdade era... Aquarela.
Na puberdade corria pelos prados Com rosas perfumando os cabelos Que caíam pelas costas em novelos Servindo de morada para os pássaros.
Sorria como mulher na sua inocência. Transparecia a graça daquele sorriso Marfim perolado banhado em essência Herdada de ervas do antigo paraíso.
Dava vida aos olhos e a aquele vestido Tecido com rendas, tergal e margaridas. Onde os pés tocavam a relva agradecia Verdejando e alegrando o dia azulino.
Resolveu se apaixonar o seu coração Num dia distante, infeliz e aziago, Fazendo em Aquarela tamanho estrago Que hoje a vemos ali, frente ao portão.
Seus olhos, outrora os mais lindos, Hoje tão profundos e preocupados, Ficam a esperar que seu “namorado” Cruze a curva daquele caminho.
Ficam horas e horas velando, coitada, Tudo após uns olhares, numa festa, Depois o mundo inteiro de promessa Agora anos e anos e nada.
Seus cabelos agora estão grisalhos; As margaridas murcharam em seu corpo; Maltrapilha, mais parece um espantalho Com as pálpebras e os lábios roxos.
A vida é mesmo uma grande piada. Sempre seremos infantes em ninhos. Nunca abandonamos nossa morada. Esperamos que o amor venha numa virada De uma curva acentuada no caminho.