Hoje, passado um século
Alegremente, venho exaltar
O rei negro, valente, indomável
Que viveu prá sua raça libertar
Quem ainda nunca ouviu falar do negro
Pare um pouco agora prá escutar
Como é linda a história deste anjo
Que resolvi, neste dia, lhes contar
Cansado de viver no cativeiro
E vendo sua gente só sofrer
Zumbi rompeu a rede da injustiça
E nas matas, com seu povo foi viver
Negro de pele brilhante e de idéias liberais
Célebre, por sua coragem e por sonhos divinais
Zumbi, fundou no Estado de Alagoas
O "Quilombo dos Palmares"
Na busca incessante, da paz tão sonhada
Fugindo dos açoites e dos ferros em brasa,
Do medo dos senhores e da aflição da senzala,
Na Serra da "Barriga" fizeram morada
Protegidos por florestas de palmeiras
E tendo o velho mestre na dianteira
Os filhos do infortúnio e da tortura
Esqueceram-se das algemas e das canseiras
Filhos das matas, dos rios e cascatas
Amigos dos bichos e da lua prateada
Ignoraram o grito de dor, que longo tempo suportaram
Respirando o ar puro das montanhas abençoadas
Subiram serras, ouvindo o sabiá
Pularam vales, atrás do uirapuru
Dormiram no seio da noite azul
Correram montes de Norte a Sul
Mas, um dia o terror lá no morro chegou
E o que era só felicidade, de repente sucumbiu
Os capitães do mato os encontrou
E uma enxurrada de sangue, desceu pelo triste rio
Só que o pai negro, gigante e justiceiro
Guardião da fortaleza e protetor dos infelizes
Que tinha no sangue a justa rebeldia
Driblou a todos com grandiosa maestria
Passado alguns anos, o nosso herói, tombou vencido
Traído cruelmente, por um antigo amigo
Seu povo finalmente, foi dominado e humilhado
E o "Quilombo de Zumbi", foi esquecido.
Poema de Maria Teresa Pinheiro em homenagem ao Centenário da "Abolição dos Escravos" (1888/1988), publicada na IV Antologia de Poetas e Escritores do Brasil - Volume XI - 1989 (Selecionados pela Revista Brasília), organizada por Reis de Souza.
Dia 20 de Novembro, comemora-se o "Dia da Consciência Negra". Portanto, com este meu poema, presto a minha mais sincera homenagem.