A AGONIA DE UM PESCADOR – UMA DOCE CRIANÇA
Metade morta de meio rio que ri morte soleira
Ri da outra metade morta oração, silêncio na beira
Que ri de si, palavra molhada, criança palavra inteira
Errado homem de um Deus mãe de uma velha parteira
Água barrenta, corre levando vermelha a vergonha da cruz
Palavra muda da palavra peixe que busca um céu sem luz
Água dura de nadar, água dura de beber que o corpo seduz
Metade a metade o rio de si ri, da metade homem que o conduz
O rio geme, na curva e na reta, quer noite ou dia, berra só no escuro,
Palavra rio quase morta, rio quase um silêncio, quando bate no muro,
Rio nu, que nem mais de si ri: vergonha do homem nem tanto maduro
Pescador: resta o barco vermelho, barrento, agoniando, triste e duro
José Veríssimo