“ Neste vasto mundos de engrenagens que nos move, quantas serão as pessoas apaixonadas que perdem o metrô todas as noites enquanto olham para as estrelas ?”
Leia apenas a primeira linha caso não acredite em mim. Se não quer ouvir as palavras que trago no lado direito da mão esquerda deixe o calor do vapor da chaleira deslacrar o envelope. Posso lhe dizer que há amores e pelos que crescem a cada dia embora não compreenda nem por um minuto. Toda a minha vida, até o fim recordarei a visão dos olhos suaves e dos cabelos macios. Numa estrada, sob chuva forte, com fome, frio e absolutamente molhado até os ossos, é impossível dizer a cor dos olhos, não por deslize meu, e sim pela absoluta ineficácia do meio utilizado para se obter uma resposta.
Deixemos então que feche os olhos verdes e durma. Que seu sono seja longo o suficiente para que os primeiros sonhos percebam o significado. Deixemos que chore sem saber por que esta chorando e durante o segundo movimento da Valsa dos Patinadores pode esfregar as mãos nos olhos. Por que isso é viver. Isso é a vida acontecendo, significando mais que simples sorrisos sem movimentos de pálpebras. Um riso com arquear de sobrancelhas revela os tons castanhos dos olhos que como todos, gostam de ver soldados marchando, fardados ou não. Armados mas amados, em tudo obedecendo e sorrindo para os que entendem o verdadeiro significado de um sorriso num campo de girassóis e o valor de uma paisagem refletindo o doirado da penugem do baixo ventre.
Deixemos todos os tons se revelarem nos olhos cinzentos ao alvorecer quando as sirenes do navio derem o toque de recolher. As gaivotas, a chuva, todos em fuga desabalada para executar os parafusos suspensos no céu de espuma de rayon. Em seus olhos negros sinto a febre de sensações flutuando num mar sonolento onde deslizam estrelas desde a aurora até o arrebol. Daqui onde estou, deste lado da manhã, queria poder mandar um doce beijo como consagração das reflexões havidas em todas as casas de todos os mortos para gaudio dos pastores presentes no réquiem em ré menor finalizado pelo discípulo.
Deixemos que os olhos azuis reflitam a lua no silêncio branco das emboscadas mal sucedidas ao vento do mar aberto. Há uma multa diária e o adeus será inevitável para a pantera provocando lágrimas no menino lobo sob os olhares sarcásticos do tigre. Não acredite no que os outros dizem sobre todas aquelas coisas que fazem pouco sentido quando são ditas poucas vezes pelas mesmas pessoas.
18112015