Enquanto eu contemplava o sol
que se ia escondendo no horizonte
levando a sua luz ao outro lado do mundo,
eu ia refrescando os meus pés
nas tropicais e cálidas águas da minha juventude
e deixava o meu olhar navegar silenciosamente
sobre o dorso espelhado pelo sol,
daquele mar azul-esverdeado,
que tantas vezes acolheu a minha rebeldia
nos mergulhos inconsequentes
que a minha impetuosa adolescência permitia…
Passaram pela estrada do tempo, os dias,
os meses e tantos e tantos anos,
voltei àquele lugar, ao mesmo cenário de outrora,
para ver novamente o sol,
que me pareceu diferente ou talvez não,
diferente estaria eu, certamente…
E mergulhei os meus pés agora, cansados e rugosos
naquelas mesmas águas…
Não! As águas não eram as mesmas
estas sim, estavam bem diferentes,
não tão límpidas, nem sequer tão cálidas,
como aquelas que me conheceram por imensos anos!
A tristeza fez-me rolar duas lágrimas pelo rosto,
a saudade do outro meu tempo apertou-me o peito,
meu coração chorou e minha alma suspirou…
Continuei a olhar, de olhos húmidos
aquele pôr do sol da minha memória,
e quando ele se escondeu do outro lado do mundo,
sorri ao mar, suspirei longamente,
enchi o peito de ar fresco
que me chegou sereno nas asas da brisa,
levantei-me, caminhei de retorno a casa
e chorei desoladamente a perda daqueles amores,
companheiros da minha vida!
A vida é de uma mutação quase irritante,
numa insistente permanência dos piores instantes
em detrimento dos mais belos momentos de felicidade.
José Carlos Moutinho