Sempre achei que crianças sentiam-se tristes num mundo de adultos. Se bem que você pode sentir-se triste se um gato arranhar a sua alma, ainda mais se passou toda a infância sem ter ido uma única vez à farmácia para perguntas se os purgantes são fornecidos e gotas ou glóbulos, como num vidro de vitaminas cheio de bolinha coloridas de açúcar mascavo, todas com pés descalços correndo em desabalada carreira.
Nessas ocasiões, não importa se seus olhos são azuis ou foi reflexo do céu na grama e nas folhas. Faz de você um pássaro e quanto mais árvores visitar mais terá vontade de jogar amarelinha e cantar. Pode até decidir se a infância é mesmo um reino mágico de brincadeiras alegres ou uma maldição que não leva a cura milagrosa da diverticulite gasosa.
No mais, não se preocupe. Sempre que houver risos de crianças, haverá um adulto para lembrar da austeridade das medidas vendo céleres em auxílio da fina flor dos manguezais. Não valerá a pena já que nascemos para o mundo e o destino já foi providenciado desde as obscuras madrugadas despontando no gelo azulado, partindo-se como linha tênue no caminho para o litoral. Pois se observar com atenção, o gelo descreve um semicírculo antes de partir a delicada linha da vida. Daí, tudo termina de repente enquanto vento traça planos no riacho.
Calma então. Muita calma que as casas cabem nas mãos podendo também ser escondidas num envelope feito com cobertor acrílico. Se duvida, volta ao início, leia a primeira linha mais uma vez e acredite em mim.