A Noite é cega e muda quando não se conhece,
Sua órbita de abismos, seu tímpano de prata,
Cativos de uma música, de um perfume, de um mistério
com que o sórdido truque da vida nos amarra.
Falamos de uma velha maceração de ruínas,
com júbilos de festa, com vôos noturnos.
Ah! o milenar estrondo do vento na serrania,
quando abre suas entranhas o braço do ciclone !
Ah! o fúnebre grito dos muros do mundo,
quando sobre seu peso geme a imensidão;
E em desolado alento em um minuto absorve
os raios do sol, a luz da eternidade.
A Noite é o ventre da vida e da morte,
nela vive absorta a voz da esperança,
nela é gerada a passageira sorte;
E cada dia que passa é um enigma,
que entrega ao dia que vem os signos da aliança.
Rui Garcia