Não queiram a salvação!
Estou no palco,
penso que me julgam mais alto,
um ser superior, mas não!
Cravam em mim expectativas!
Esperam pelo que diga!
Ah, sim, tem que ser coisa bonita,
certamente!
Que esperam que diga?
Não sou sapateiro, não conserto sapatos!
Não sou mecânico; não conserto carros!
Não sou médico; não trato doentes!
Não sou dentista; não tiro dentes;
Não sou político; não fodo gentes!
Não sou general; não faço guerra!
Não sou coveiro que enterra!
Um pintor pinta a preto ou a cores!
Um poeta dá duas de letra!
Que é o que vos consome?
Que esperais que vos diga?
Coisa que encha barriga ou mente?
Um padeiro faz pão, que uns comem,
outros não!
Muitos, muitos comem pão,
outros, muitos mais não,
apenas bebem demasiada água salgada
dos mares ocidentais!
Não sou sapateiro, que conserte sapatos,
mecânico que conserte carros,
dentista que tire dentes,
médico que trate doentes,
apenas engenheiro de palavras,
arquiteto de sentimentos,
psicólogo de sensações,
mas, agora aqui,
no palco,
onde me pensais mais alto,
não sei o que vos diga,
para além do que já sabeis;
que esta vida está fodida!
Então, não há nada a fazer!
Fodeu-se! O pai é incógnito!
Sorte dos que não acreditam na ressurreição,
noutra vida fodidos não serão,
porque nesta já estão!
O padeiro faz pão, que muitos comem,
mas muitos mais não,
apenas pedem, pedem, pedem,
o “venha a nós o pão nosso de cada dia”
e pedem, e pedem, e pedem!
e o padeiro faz pão, faz pão, faz pão,
que muitos comem,
mas muitos mais outros não!
Vou descer do palco.
Falei baixinho para chegar alto!
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Autor: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque
Figas