I
Crimes de sangue traçaram esta fronteira
Que todos os mapas do mundo atestam
E contudo nesta margem de rio
Que aqui divide dois países já de si divididos
Não vislumbro mais que o rico sol refletido
Dos oblíquos raios chapados de junho
Existem barcaças vogando, outros apetrechos com motor
Atacam as águas lentas e isentas num ódio juvenil
A espuma aparece, as pessoas olham das duas margens
Murmuram na sua língua uma circunstancial inveja mal disfarçada
O branco leitoso dissolve-se no azul que o céu corrobora
Toda a mudança se esvai nesta natureza perturbada
Contudo se abrires o mapa a fronteira ainda lá está…
II
Aquela pintura é mais que uma fotografia
Matizes pessoais fazem uma espetacular diferença
E o rosto que nos diz que já viu muito
Permanece ainda fiel aos seus sonhos e mistério.
Há harmonia no mundo se quiseres
Assim assinou o poeta pintor – com coragem diga-se
E um qualquer abstrato olhar pode ser aí caçado
No intervalo das suas perseguições à carne.
III
Quero atravessar um rio de giz
Onde possa esquecer e olhar
Como escorrem as letras na natureza
Assim já o fazem as pedras do lugar.