A cada manhã
Encaro o espelho
Que me devolve o olhar
Onde contemplo o receio
E onde bafejo o anseio das horas
Quebradas pela imobilidade do sonho
É deste reflexo preso que me afasto todos os dias
Dando asas à minha alma p'ra voar
Num voo partindo de dentro
Onde me recomponho
Para que não quebre o lapidado
Do tempo...
Do tempo onde me deixei ficar
Parto em busca de um outro mundo
De um outro alento
De um outro olhar
Que não o que me enfrenta repetidamente
E me acusa de um olhar pó de giz
A subir de um lago profundo
Até ao céu macerado
Até às nuvens do entendimento
Pintando de negro a curva do arco íris
Fujo vezes sem conta deste amplexo
Entre faces que não se reconhecem
Fecho os olhos que osculam o passado
E sou ave nas penas do pensamento
Cerrando os lábios num voo incerto
E danço com o vento
Mascarada pela intensidade do sol
E cicatrizo-me nos pingos da chuva
Largados na solidão da minha boca
Para que a dor esmoreça e se torne suave
No espaço choroso entre a moldura
E a minha loucura
E sobrevivo nesta dualidade
Parto sempre...
Num voo com regresso marcado
Porque as asas tem validade
Tem idade, tem fim
E é tão curta, tão pequena
Que o embaciado ainda resiste
Na face espelhada de mim
Luana Lua