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O apito da fábrica de papel (AjAraujo)

 
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“ Precisamos sempre mudar, renovarmo-nos, rejuvenescer; caso contrário, endurecemos. Devemos ouvir pelo menos uma pequena canção todos os dias, ler um bom poema, ver uma pintura de qualidade e, se possível, dizer algumas palavras sensatas. ” (Johann Wolfgang von Goethe)

Uma nuvem de poeira
Se levanta na velha estrada,
Recém recoberta com saibro,
De um lado, as águas mansas
Do rio Piraí serpenteando,
Sob a sombra dos bambuzais.

As margens com seus aguapés,
E do outro lado, as colinas,
Com seus verdes tapetes
Despenteados sob o vento
Mesclados pela luz solar
No crepúsculo escondido.

O apito da fábrica de papel
Pontualmente toca
Marca o compasso da cidade
Avisa que é chegada a hora
De mais um dia de batalha,
Oh, tanta gente apressada...

Desloca-se a buscar condução,
Vem do Chalet, Boca do Mato,
Ponte Alta, Ponte Vermelha,
Maracanã, de Barra do Piraí,
A maioria anda de bicicleta
Em suas vias tortuosas.

A minha vila, Santanésia,
Respira ao cair a noite,
O doce aroma da primavera,
O perfume das flores inebria
Está por toda a parte, nos jardins,
Nas frondosas árvores da praça...

E, qual vagalumes na noite,
As pessoas vão caminhando
Pelas calçadas bem limpas,
De suas ruas estreitas
Em uma visão pueril.
O percurso nem é tão longo...

Mas há paradas obrigatórias,
Na banca de jornais do Adamastor
Para prosear as últimas notícias,
Folhear revistas em quadrinhos,
Ou esperar a bisnaga quentinha
Na padaria do Paulinho...
- Tudo anotado na caderneta.

Na COBAL, a manta de toucinho,
Para preparar uns torresmos
E depois preparar a mistura
Com a gordura de coco carioca,
Aquela com bonitas estampas,
Assim como o sabonete Eucalol.

No açougue impressiona
Aquela machadinha,
Para cortar as costelas,
Depois passar na barbearia
Do Wallace: ponto de encontro
Para discutir o futebol.

A turma das bebidas finas
Ia ao bar do Antônio Lourenço
E a da cachaça se encontrava
No boteco do Senhor Lacerda
Onde quebrei vidraça com pedra
Ao ouvir “filho do Zé Leão”
– Apelido que meu pai detestava.

A vida nos é dada a aventuras,
E nesse andar de formiguinhas,
Acabamos por tomar o rumo
De outras estradas, novos lugares,
Vamos traçando a nossa própria rota,
Construindo o caminho...

Como José - o pai jardineiro -,
Que chegou de Pau-de-Arara,
Do Nordeste, mais um retirante
Sempre a cumprimentar os passantes
No seu jeito simples de homem do campo
- É dele umas das lembranças mais fortes de minha Vila.

AjAraujo, o poeta humanista, recordando sua cidade natal, e a falta que sente de seu pai, brutalmente assassinado há menos de 1 ano, quando trabalhava como guarda em uma escola, escrito em 1987.
 
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AjAraujo
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/11/2015 00:10  Atualizado: 03/11/2015 00:10
 Re: O apito da fábrica de papel (AjAraujo)
Seus poemas, seu encantos, onde a cada olhar se inova.

maravilha