"... Uma porção de pequenos fonemas miseráveis,
mostram-se a olhos que jamais vão entender...”
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- Meu poema virou campo de batalha -
I.
Aconteceu certa vez num poema apenas começado,
balada sem pretensão, talvez soneto controverso.
Um substantivo comum e um pronome abestalhado,
fizeram pouco caso do clamor que dedico ao verso,
transformando-me em copiador de agir fraudulento,
seria um simples alardeador das façanhas do vento!
Nesse meu poema, os verbos dos escritos tardios,
suspiraram de paixão mirando famintos as coleções,
volumes enfileirados, uns polpudos, outros esguios,
desejosos pelos entre laços com Eneidas e Camões.
Enquanto isso me recolho à mediocridade tangível
tomada na acepção etimológica da palavra suscetível.
Não importa o que alguns fonemas acham da lavra,
confesso-me réu admirador das musas inatingíveis,
se não rebato quando doutas, uma ou outra palavra,
veem agora dizer que leio apenas as obras fungíveis.
Nem me abato mais quando um predicativo interage,
dizendo alto que prefiro o Decamerão do Bocage.
II.
Uma porção de pequenos fonemas miseráveis,
mostram-se a olhos que jamais vão entender;
de repente até poderão surgir loas razoáveis,
lendo Gil Vicente e as cantigas de maldizer.
Ante as paródias irritadas do hífen vingativo,
faço de conta que foram para um caso genitivo
Parágrafos volúveis não tem pontos de vista,
em todos os hiatos percebo discórdia extrema
consoantes e vogais digladiam-se em revista,
emitindo silvos diante do mal escrito poema.
Incapaz de ouvir voz de uma critica sincera,
um agente da passiva mal humorado vocifera.
Bem sei que só adjuntos adnominais enfermos,
preferem um sabrage usando de gargalo esta loa,
este poema é um val de lutas sem meios termos,
advérbios mancos não se cansam de citar Pessoa.
Tenho certeza que tremas não darão bom conselho,
sinédoques escangalhadas me tratam como fedelho.
III.
Nestes versos que jamais pretenderam ser epopeias,
metáforas esgarçadas recusam-se às comparações;
ouvirão os sons originais de combalidas prosopopeias,
deliciando-se a uma leitura de Vieira nos Sermões.
Este poema foi ao campo de batalha saindo ferido,
quando vírgulas desmioladas acham que tudo tem sentido.
Como rapsódia, um aposto deposto voltou à clave de sol,
entre ditongos doentes e loucas locuções, todos santos,
um rol de rimas descartou conjunções podres no urinol,
esquecendo que até entrelinhas perrengues têm encantos.
Apenas uma preposição aliterada com denodo e muita luta
achou no poeta uma personalidade perfeita filha da labuta
Na verdade, era só bajuladora, queria me jogar incenso,
com um comentário ao pé da letra foi o que ela disse:
“- Você é famoso, quem diria? Seu talento é imenso.
Preenche páginas impressionistas como tela de Matisse”
Alguns dígrafos acharam que viam como sepulcro caiado,
este poema que parecia pranchão de alvo, todo furado.
IV.
O resumo foi que os hiatos paralíticos e orações servis,
criaram minha imagem com ecos de grã megalomania;
espalhando o boato linhas impressas remexendo quadris,
nas salas de bate papo da novidade era só o que se dizia.
Apostrofes estafadas levaram tudo para as mídias digitais,
impressionando vocativos esbodegados e exaustos numerais
Preciosos foram os apartes das interjeições subservientes
dizendo que deveria providenciar para ter um livro impresso.
Sei que eram apenas bajulações como dos epílogos dementes,
mas gostei dos confetes, massageou o ego, isso até confesso.
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30102015
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