Talvez um dia possamos ver estrelas
em meio à tênue névoa do anoitecer;
antes da aurora romper em aquarelas,
talvez sacies toda esta minha ansiedade
- brumas se desfazendo numa só luz,
que a um alvorecer inebriante conduz.
Suplicar ao vento que vasculha caminhos,
farfalha as frondes das palmeiras e a grama
- atravessa sem se ferir folhas de espinhos,
rindo da minha tristeza secular humana -
que a meu favor labute e aja benevolente,
sussurrando em teus ouvidos sorrateiramente.
Queria poder deixar de ser um reles estranho,
contigo sentir o calor na estrada, ter tua fiança,
vencer as muralhas do afastamento tamanho .
Demolir todas paliçadas cegas da desconfiança,
- são como feixes de âmbar, agourentos sinais,
elas anuviam o céu no final das tarde banais .
Teremos então a lua, como lanterna de veludo,
derramando luz pálida; ela como testigo silente,
entornará frisos de prata para nosso deleite mudo.
Através do vortex desde os primórdios, conducente,
a lua cheia ateia com dulçor lumes às velas celestes,
fazendo da escuridão soturna júbilo nos agrestes.
Enquanto observamos estrelas em eterna mansidão,
posso colher flores do campos, um buque de açucenas,
tentando assim sensibilizar tua mais íntima emoção,
- não vejo descuido nos teus olhos sob as melenas.
Então poderá ser primavera outra vez, uma estação a mais
trazendo na volúpia de sonhos, talvez pensamentos sensuais.
Estaremos sorrindo um para o outro, tanto enlevo e brandura
com andorinhas anunciando bonança no céu azul de calmaria
e no final de cada noite a fio ouviremos os suspiros de doçura
de uma liberdade que pode até nos aprisionar em agonia,
e no sopro deste vento célere antes de um novo amanhecer
“- nada nos prenderá como nada, o que quisermos poderemos ser”
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.