Voa vento, na escuridão densa,
polindo estrelas de Pégasus
nesta primavera que principia.
Traga-me a visão de minha linda
- não posso tocar seu corpo,
procuro qualquer vestígio no vento
da imagem idolatrada, infinda.
Voa vento, toca meu corpo,
mas não farfalhe as recordações,
doces enlevos de um tempo feliz.
Desde que minha linda se foi,
perdi as chaves dos sorrisos francos,
o peito recobriu-se de musgo,
apenas a saudade ficou intocada.
Voa vento, se preciso peça ajuda,
às brisas amenas e aos redemoinhos,
agitando manso as pétalas de flores,
construindo uma grinalda de amores.
Arraste para longe pesadas correntes,
cadeias de pensamentos angustiantes
como enfunando as velas dos saveiros,
levando para alto mar as agruras.
Voa vento, altere o traçado do destino,
teça alvíssaras em sopros piramidais,
um fio insuspeito da roca das Parcas.
Através de florestas e desertos,
espalhe no ar as notas da flauta,
sempre vai me encontrar sozinho,
cantando em meio à tempestade,
um verso de amor para minha linda.
Voa vento, espalhando a firme certeza
que ela sabe como tornar a vida agradável,
afastar lembranças dolorosas;
ela sabe como pintar a noite escura,
com matiz de estrelas fecundas,
desanuviando a alma triste,
que definha num cativeiro de saudades.
Talvez, nada volte a ser como outrora,
talvez continue afundado em lamentos;
ouça na voz de um vento cauteloso,
que o passado é irrecuperável,
lamentos não irão adiantar,
talvez tenha chegado o fim.
Então, voa vento, voa sem parar,
mas preste atenção em mim
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.