Nem bem a cortina se abriu e a orquestra iniciou os primeiros acordes do Segundo Concerto para Piano. Ao longo do palco, com tufos de cabelos brancos nas mãos, o maestro observava as fileiras de coristas dançando e exibindo delgados tornozelos.
Naquele ambiente acústico, palavras de cristal e frases de carvão se misturavam ao som das castanholas e estalar de dedos frenéticos chamando as garçonetes. Enquanto isso, o céu queimava logo acima açulando vespas gananciosas e ávidas para apertarem o esmalte das unhas das senhoras mais idosas. Não seguravam as lágrimas, mas distribuíam sacos de farinha queimada realçando toda a beleza da paixão, todas as nuances de inspirações emocionadas anunciando mais um arrebol.
De conformidade com os tímpanos, braceletes de ouro soavam ritmicamente, ricamente fundamentando movimentos sensíveis e sorridentes das donzelas que dançavam trazendo nas mãos, cada uma delas, um copo azul. Geralmente são utilizados para mesclar as músicas da radiola, mas naquele momento mostravam-se indiferentes e insensíveis às musicas paralelas.