"... Sói que lemos os arcanos nos mesmos manuscritos,
atônitos soubemos sobreviver, sem obra escusa ...”
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- Balada ao caminheiro das sendas -
Se como eu, muito já viveste nas sendas,
já experimentaste na lida todas as dores;
como lenitivo, ocultando luto em tendas,
deixando a alma fluir envolta em ardores.
Se como eu, tiveste-a urgente agrilhoada,
em muitas cadeias duras de fundido metal,
suportando resignado, o granizo e a geada,
bem sabes como enfrentar outro temporal.
É que já há muito tempo me sinto derrotado,
em joguete ao sabor dos estrondos me dito,
nas tempestades rumorosas de furor atroado
preciso tanto o corpo repousar, mesmo contrito.
Nas sendas e veredas desta vida de agruras,
eu sobrevivo, deixando o vento vergar o cerviz,
vide os juncos que se vergam como em mesuras,
mas se aprumam, após o vento, no antigo cariz.
Mas, sabemos tanto eu como tu, bem nímio,
que é preciso seguir mesmo sob estrépitos,
as brumas evanescerão sob o hálito exímio,
dia de sol, num alvorecer de albores inéditos.
Se tu, meu amigo, assim como eu, inda neófito,
já te quedaste sob ramas de arvore frondosa,
tentando não acoimar mais o parasita saprófito
nos recônditos mais interiores da alma cuidosa.
Então, sabes o que sinto, incógnito nesta campa,
neste solo que me acolheu dos penares malditos!
Somos d’um só barro, refletimos uma só estampa.
já soa que tu e eu cometemos os mesmos delitos.
Sói que lemos os arcanos nos mesmos manuscritos,
atônitos soubemos sobreviver, sem obra escusa,
onerando ouvidos aos estampidos ora infinitos,
de sobejos somos de forja ínclita, o mesmo gusa
Se viste ter comigo para aqui com algum êxito,
também descansar das agruras da vida restrito:
- Meu amigo, sê muito bem-vindo neste distrito,
sob dois ciprestes gêmeos, lugar que ora habito!
16102015
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" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."