“ Para expressar-lhe o aspecto verdadeiro,
Eu digo que à charneca então chegamos,
De plantas nua em seu espaço inteiro.
Da dor a selva a cerca dos seus ramos,
Como o fosso a torneia sanguinoso:
Ali, rente co’a borda, os pés firmamos."
A Divina Comédia – Inferno – Canto XIV
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Tu, ó desavisado, traste que ora em vão
caminha c’os passos insertos n’ escuridão
quando vibrante voz, chamado d’arraiz;
ela ressoou potente nos arcos celestiais
- tão brilhante que era então a tua via!
Toda abóboda agora te será descendente,
meio-arco! Parco é teu tempo d’ eufemia
- não te quedes dissimulado, ora-decadente,
desertor da fé, esta hora soturna, mandrião.
Embora ledo, nutre o sonho, entresilhado,
quando é chamado teu nome obcecado,
alvíssaras de ainda salvar-te negro avejão!
Tempos passados e futuros são-te indistintos,
não t’ escondas tentando em barras, debalde,
prorrogar por mais um dia que sejam famintos,
poupando minutos d’ agonia arrostas o alcalde
Vislumbres de chofre a realidade, nua-crua,
que se apresenta diante de ti nesse relento,
definhando sob essa mó de toda miséria tua,
és poeira apenas partícula divisa ao vento,
confundindo-se com o vermelho do por do sol.
Curva-te temente, por fim rendido, obstinado incréu
sem ter onde, agarra-te, em ânsias ate ao arrebol,
és sombra, tremula apenas como flâmula ao léu