"... figuras tortas girando em círculos concêntricos,
são visões remotas reproduzidas infinitas vezes...”
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- Narciso embriagado mirando-se nas águas da ribeira -
As mechas de penumbra da noite se vão,
a fugir dos primeiros raios emergentes
despontando na escotilha aberta no céu.
O dia vernal amanhece quase vermelho,
sublimando as gotas de orvalho da grama,
iluminando o vale para júbilo das flores,
fazendo o regalo das aves em alvoroço.
Nesse esboço de paisagem bucólica
- perfeito diagrama de uma manhã feliz,
encontra-me como narciso embriagado,
mirando-se fixamente nas águas da ribeira,
vendo reflexos de caricaturas no remanso
- nítida percepção de espectro ambulante,
simulacro de antigo posseiro de venturas.
No translado de imagens distorcidas,
produzidas no límpido álveo sonolento,
figuras girando em círculos concêntricos,
são visagens reproduzidas infinitas vezes.
Estampas ampliados em ondas idênticas,
como eco sem fim das amarguras, revezes,
restadas da certeza de que na noite finda,
alguém ficou sorrindo alheia a tudo –tão linda,
divertida, despreocupada, talvez quase feliz,
indiferente mesmo, com gélido olhar virente,
ainda escarnecendo, rindo, com pena de mim.
11102015
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" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."