A Palavra Mágica
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Como bem sugere a apresentação do livro, ao ler os poemas de Carlos Drummond de Andrade, é fácil identificar semelhanças com as nossas experiências de vida, pois ele abusa do cotidiano para fazer poesia.
A leveza de sua linguagem torna mais prazerosa a leitura de suas poesias. "Poesia assim como a arte geral, perpassa nossa vida, dialoga com a nossa sensibilidade, é inerente à nossa condição, está presente na ração diária que nos faz, a cada dia, humanos." (trecho da apresentação do livro).
E com quanta sensibilidade o poeta traduz o sentimento do trabalhador assalariado em seu poema 'Salário'!
A impressão que tive ao ler "A Palavra Mágica", é que as palavras saltam soltas, harmoniosas, às ordens do poeta. Em seu poema 'O lutador', Drummond simplesmente desmente esse aparente domínio.
Alguns textos de Drummond presentes nesse livro me reportaram à infância, aos tempos da escola primária. É o caso de 'José' e ' Lira do amor romântico' ou a eterna repetição.
Marcante nesse livro é também a ironia desse poeta presente, por exemplo, em 'O homem; as viagens':
"...o bicho homem, bicho da terra tão pequeno
chateia-se da terra...
toca pra a lua...
marte...
sol..."
e o poeta ironiza:(depois que o homem explora todo o espaço)
"...só resta ao homem,
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo...
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria de con-viver."
Em poesia, Drummond fala de algo tão profundo que me traz à lembrança as colocações do psiquiatra e escritor Augusto Cury quando diz que raramente fazemos uma viagem interior. Somos gigantes na ciência, mas pequeninos no campo das emoções.
Drummond enaltece valores intrínsecos em detrimento das aparências externas em 'Eu, Etiqueta'. Esse poema chama-nos à reflexão do que passou a ser encarado como valor pela nossa geração.
Embora eu concorde com Fernando Pessoa que "o poeta é um fingidor", a visão que este livro me deixa de Carlos Drummond de Andrade é de um ser humano sensível aos pequenos eventos e apreciador da vida tranqüila do interior mineiro onde se cercava da afeição familiar. Tal aparente simplicidade, a meu ver, dispensa maior comentário sobre a grandeza do autor.
Sandra Lima Costa Melo