Tempestade na Montanha
Noite na montanha, tão escura, sem luar,
troam as tempestades lutando, relâmpagos
nascidos da desordem e da raiva incontida.
Na cabana gélida e obscura jazo, em insónia,
sem vontades de libertar sonos esquecidos
que me repousem, dando-me vida.
E o vento ruge feroz,
senhor do caos
gerado nas profundezas
uivando gritos de maldição.
Quem ousará, assim, sem temor,
enfrentar caminhos sem certezas,
tropeços fatais de perdição?
…
Eu sou a tempestade e os ventos,
o caos, o medo, a fatalidade,
meu ser é terramoto fatal.
Rasgo almas de ais e lamentos,
nego a plácida felicidade...
Sou demo, senhor de todo o mal!
Ide, Poetas! Esquecei líricos
de amores perenes, absurdos,
redentores dos sempre perdidos.
Calai-vos poetas dos empíricos
textos declamados para surdos.
Ela não vem! Por quê mais bramidos?
Sou cinza da lareira apagada,
choupana pobre, falha d' adornos,
árvore podre sem frutos ou flor.
Renego o nascer da madrugada,
sou ave migrante sem retorno...
Nada poderei doar ao amor!
Poet@ sem Alm@
João Loureiro
Lisboa, 03/Out/2015