BALADA DA ANTIGA AMADA
Uma vez perdida a ilusão,
Como cantar a antiga amada?
Acaso pode a água passada
Mover moinhos no coração?
Acaso queima o fogo extinto
A pele ora apenas exposta?
O que se faz quando se gosta
Se eu tanto d'ela me ressinto?...
Cantando aquela que muito amei
E, queira ou não, sempre amarei.
Dizem que errar melhor ensina
Ao velho erro não repetir.
No entanto, conheço o porvir
Exacto porque é minha sina
Lembrar da que devo esquecer.
Embora a passagem dos anos
E tão numerosos enganos
'Inda me encanta essa mulher...
Cantando aquela que muito amei
E, queira ou não, sempre amarei.
Que esperar senão que volte
Dando a crer que agora fica?...
Ainda mais bela e impudica,
Mais atroz ela me revolte
Com improváveis e impossíveis
Prometidos sem pestanejo,
E a manipular meu desejo
Mentiras de todos os níveis...
Cantando aquela que muito amei
E, queira ou não, sempre amarei.
Ao fim, todo bem se maldiga
Por se rever a amada antiga,
Cantando aquela que muito amei
E, queira ou não, sempre amarei.
Betim – 29 09 1994
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.