<br />Victor Jerónimo
Portugal/Brasil
Sinhõ... pão por Deus.
Minha mãe tá tuberculosa
Meu pai em cadeira de rodas
E eu sou pequeno pa trabalhar.
Cenas como estas deambulam em muitos lugares no mundo, esta particularmente a recordo nas minhas viagens diárias para o emprego. Crianças sujas com estes cartazes em papelão, no meio de senhores e senhoras perfumadas que fingiam dormir, ou estarem distraídas com uma leitura de momento. Ele arrasta-se de vagão em vagão, sem pernas, uns tamancos nas mãos, que substituem os pés, pendurado ao pescoço uma lata e um cartaz: - Tenham dó e piedade desta pobre alma, que não tem o que comer.O comboio rola, vencendo os trilhos de ferro, lá dentro o povo trabalhador, segue impávido, sereno e pensa, coitadinho, que horror. De vez em quando lá cai uma pequena moeda na latinha.Os olhos do invalido brilham como se tivesse ganho na lotaria. Ela ainda menina, mas já bem "apetrechada" vai ganhar a vida na... rua.Sua mãe assim o faz há muitos anos e seu pai esse... nunca existiu.Quase como que uma tradição de família, a menina, vai ganhar a vida, pois sua mãe está velha e cansada e os homens já não a querem.Preferem a carne fresca... a carne acabada de sair da infância, para entrar directamente no mundo da prostituição. Tantos, milhares, milhões, biliões de casos iguais, diferentes, mas todos em busca do pão. Pão que é tirado das searas em ouro, por homens que trabalham para um patrão, que o vende a peso de ouro.Em países com leis que destroem o excesso de produção, dando mais ouro a esse patrão.Destruição dos excessos de produção, que não podem matar a fome no mundo, pois destroi a balança de pagamentos.O ouro, que faz e desfaz, em nós complexos.Quem o tem chama-lhe seu. Quem o não tem, arrasta-se, chora e até mata por ele.Ouro esse vil metal, que podia ser do bem.Quantos séculos, ou milénios ainda terão que passar para que o homem, entenda, que o mundo pode ser um paraíso?
07.Set.2005
Victor Jeronimo
(Portugal/Brasil)