(...) Faz quase quarenta anos desde que minha mãe me deixou; e salvo por aqueles contatos perfumados nos meus sonhos, eu recebi somente uma mensagem dela durante todo esse tempo. Não veio diretamente dela, mas foi transmitida – através de psicografia – por um mensageiro celestial. Ela fala de sua “residência em lugares atemporais onde o chamado das horas é ouvido não na porta da Alma”. Essa mensagem foi lindamente escrita, e de certa forma, era tudo que eu poderia desejar, e, no entanto, meu coração afundou ao lê-la. Essa nova mãe aparentava estar tão divinamente remota, tão à frente de mim em sabedoria e conhecimento, tão celestialmente calma e “não-humana”, tão completamente perdida para aquele pequeno garoto que ainda existe dentro de mim. Aqui estava uma deusa, e
eu queria a mãe que costumava rir e correr loucamente com o vento em seus cabelos brilhantes e pular por cima de redes de tênis. Eu queria que ela se lembrasse do dia em que ela me levou até Edmonton para um piquenique e entrou descalça num riacho e assustou-se com um sapo. Ainda posso ouvir o gritinho que deu quando ele tocou em
sua perna. Mas ela não falou sobre nenhuma dessas queridas insignificâncias; e mesmo que tivesse, elas não teriam qualquer valor de evidência. Porém perto do final de sua mensagem ela exclama, “Ó, seu tempo!” E essas três palavras me soaram familiares: lá estava minha mãe de tempos atrás. Pois eu conseguia ver novamente o
movimento encantador, meio petulante de sua cabeça e seus olhos esplêndidos iluminados pela indignação de zombaria.
No entanto, tudo o que tive na vida, e também os meus conterrâneos, foram coisas que nos foram ou serão tiradas. Nada! Em absoluto, perdura por aqui, senão a maldade, a ignomínia, a tristeza... Quanto da vida parece uma piada, contada por um demiurgo sem senso de humor, que se apraz em assistir os dramas humanos, morrerem em saudade, tristeza e vazio? Ou talvez, haja uma esperança... de que na verdade entendemos tudo errado, e que no lugar de um demiurgo exista um criador, que ama tanto a sua criatura, que se esconde dela, no medo de seu brilho desintegrá-lo, ao mais simples olhar...
Estranho... aqui jamais saberemos. Tudo o que se desenha, diante dos olhares atônitos de quem se esforça por não acreditar e nem ver, é uma vida fadada ao inerente sentimento de não pertencimento. De que tudo que tenhas, por melhor que sejas, está destinado a acabar.
Sobra-nos a morte, que é só uma palavra. Quem sabe, por esperança, estejamos do lado errado das dimensões. E lá é que está a vida! Onde as coisas não acabam e são eternas, e ninguém tem medo de morrer, mas de viver. Assim, seja como como for, a morte um sono sem sonhos, de Sócrates. Ou a morte, a redenção da espécie humana, dos esperançosos... Ela acaba sendo melhor do que a vida. Afinal, amanhã tem mais impostos para pagar, mais pessoas para lhe abusar, e a noite virá, em tristes sombras sobre a formosura. Óh, o seu tempo...
j