(...) Então eu acordo, mais uma vez no dia, embora eu estivesse sonhando que estava sonhando. No meu sonho eu havia sonhado. Então, despertei duas vezes para a realidade. Embora sequer perceba, que desperto diversas vezes no dia para ela. Ao abrir dos meus olhos, vejo o papel de parede, as toalhas bordadas sobre a mesa, a leve claridade da lareira e o perfume velho da madeira que forra o meu assoalho. Tão real quanto no meu último sonho. Levantei-me para escrever, talvez eu esteja sonhando agora também.
Em meus sonhos, crio a realidade. Ela pertence a mim. Até que, aparece alguém e a compartilha comigo. Aí então, eu já não posso mais voar por sobre as árvores, e nem num pulo chegar até a China. Preciso entrar em acordo com o meu amigo do sonho, de que ele permitirá e entenderá quando eu quiser, num soluço, passar por sobre as copas das árvores. E aí então, num esforço de vontade, meus pés se despregam do chão, e toda a gravidade que eu sentia se junta bem na boca do meu estômago, me arrepia, e me lança no ar como uma bolha de sabão.
Então eu sinto a luz do sol aquecer mais o meu rosto, e vejo o vale lá embaixo, milhas abaixo dos meus pés! Aquilo sim é a realidade! E ninguém pode convencer-me do contrário.
Mas ai, eu "acordo". De novo a minha janela, o seu papel de parede, e a madeira lustrosa... bem, isso já sabemos. Pego-me dizendo pra mim mesmo, que ainda sonho. Tudo é um sonho, os sentimentos que tinha comigo enquanto eu "dormia" e "sonhava", estão comigo agora também! Em meu sonhos eu era tão senhor de mim quanto agora, e nunca questionei o fato de voar, por que ali, era real. Começo a me questionar sobre o agora. Claro, pois, isso não passa de um sonho compartilhado! Compartilhado por tantas consciências, que elas não lhe deixa voar! E se deixassem? E se acreditássemos que pudéssemos? "Tu podes mover montanhas, pois digas ... passa-te daqui para lá, e..."
Em meus sonhos, quando passo a questioná-los eu acordo.
Será que estou acordando agora, prestes a abrir os olhos?
Quem então, será o eu sonhador? Terão papéis de parede ao seu redor, e uma madeira lustrosa debaixo de seus pés a exalar o seu perfume?
Em meus sonhos eu sinto perfumes... Acho que o perfume não existe, nem a madeira. O perfume então seria a minha consciência tentando se situar e se orientar num eco de milhares de dimensões...
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