Fiquei feliz por ver você e conversar alguns minutos ao contrário de apenas sonhar mais uma vez com sua bela imagem. Confesso que manteve o mesmo talhe da juventude quando me apaixonei. Lembra-se de nossos momentos de poesia e arrebatamento?
Mas você amadureceu e a cada dia o mundo se abre à sua frente descortinando tantos horizontes ainda não explorados nem conquistados. Orgulhosa e forte enfrenta os percalços construindo sua vida. É o broto novo com viço e vigor procurando o sol, fincando raízes e tomando seu espaço. Para mim, tronco solitário à beira do caminho, restou um tempo e adoração, de inspiração, quando lembranças daquele sentimento tão sublime fluem partindo de um peito dilacerado. Descobri um mundo novo ao caminhar com os pés no chão. Em ondas soltas, a poesia canta reminiscências de um tempo de puro enlevo e devaneios tão risonhos. Mas confesso que quando de um poema me foge um verso, ainda procuro em voz alta chamar seu nome.
Às vezes, a tristeza ainda toma conta do coração. Sou atormentado por obsessões e sonhos estranhos. Acompanhados de angustia e grande ansiedade. Neles, não me mostra sequer simpatia. Nessas horas, ao acordar, penso muito em nossos diálogos, revejo fotografias, vejo alguns vídeos. Por vezes traído por uma opressão onipotente, de joelhos, suplico a quem quer que seja que me atenda e alivie meu sofrimento.
Então passam a me chamar de louco. Não faço conta. Deixo que continuem não entendendo o que foi o fascínio do nosso relacionamento. Mas, entristece-me quando percebo lendo poemas, que a criação do poeta abateu-se sobre meu entusiasmo como espada flamejante cauterizando sonhos. Ai de mim. Pobre poeta amargurado anda com o coração triste, vazio e solitário, consolando-se ao escrever versos para um amor tão intenso, o qual creio que transcenderá a própria vida. A minha, com certeza. A sua... talvez!
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.