Percorro ao frio os dias da Cidade,
as ruas, os cansaços - até a morte -,
tudo ao longe, bem fundo, é saudade
que hora a hora no silêncio me consome.
Sou da noite porque o dia me fustiga
sou da morte porque a vida me renega
sou da terra porque o Céu nunca me abriga
quero nada porque tudo não me chega.
E encontro no silêncio das arcadas
uma longa e rebuscada curvatura,
como as linhas de uma mão, perdidas e cansadas.
E como os arcos que passam pela Praça, enquanto dorme,
quero muito à morte porque nela a vida dura,
mas quero mais à vida porque é nela que se morre.
Ricardo Maria Louro
Na Praça do Geraldo
Em Évora
Ricardo Maria Louro