QUE FUTURO?
Observada dos confins, a terra é um planeta de paz. Mas se ousamos entrar-lhe nos domínios constatamos ser pouco mais que um tornado feito de fúrias desabridas que se chocam e entrechocam numa desordem sem freios.
Ouvi recentemente de alguém de neurónios afinados, e a rondar os oitenta anos, que desde que se conhece e a memória aí o leva, não houve um só dia em que na terra se não desenrolasse um mais ou menos destruidor fragor de guerra. Hoje, ao abeirar-se dos cem anos sente ser desolador constatar essa verdade mas sobretudo concluir que essa guerra de todos os dias e por vezes de uma brutalidade sem nome, quem a desenrola não são as feras da selva, mas esse ser tido como pensante e o mais inteligente, que é tratado por homem.
O que hoje me leva a divagar sobre a violência ou brutalidade desse homem, reside justamente no desrespeito e agressividade com que mutuamente se trata, em função de factores de diversa natureza, a que o lado religioso, mal digerido, não é alheio, como o não é de um modo extremamente despudorado, esse impulso fazedor do Deus dos nossos tempos e que se chama dinheiro.
Haveria um mundo de circunstâncias a referir, mas espaço não nos resta para tanto. Limito-me a dizer em duas palavras algo do que penso: durante muito tempo acreditei que o homem, apesar daquela mutua violência de todos os dias, estaria desde há séculos num processo de progresso que gradualmente o levaria à almejada paz. Hoje não estou de tanto convencido.
Aquilo a que tenho assistido não aponta para caminhos de civilização e, na hora que passa, pressinto que mudanças de uma violência extrema se prenunciam ao longe. Estou convencido - e isso preocupa-me – que a África faminta vem por aí. Não sei que futuro esteja reservado a essas Europa e América que se têm tido na conta de promotores do futuro civilizado. É preocupante.
Apesar de tudo sou um homem de Esperança e ainda acredito que pelos Deuses esteja previsto um «volte face» que reencaminhe a humanidade para uma vivência verdadeiramente civilizacional, e que cenas como as que nos têm sido mostradas nestes nossos dias, de pais que por circunstancias incríveis, se vêem obrigados a depositar nas aguas fundas dum mediterrâneo os corpos já inertes de seus filhos deixem de acontecer de uma vez por todas. Que o sofrimento, sobretudo aquele que é ditado pelo ódio, pelo desrespeito e pela ganância não aconteçam mais. É que não é possível prosseguirmos por aí.
Lucius