EU E OS OUTROS
Dentro de mim mora a revolta
Alquebrado o corpo
Petrificada a alma
Sinto fome e sede
Não a sede da água
Nem do corpo a fome
Mas a tristeza que de infinita
Me estorva de ser quem sou
Ciente da minha identidade.
No Mediterrâneo morre-se
Na incapacidade das barcaças
Os pais vêem os filhos
Afundarem-se nas águas
Acenando-lhes para a eternidade.
Não há lágrimas que traduzam
Tão atroz sofrer.
Qual Diógenes num desespero
E no máximo da lanterna
Busco a culpa, quem a têm?
Sinto-me pobre para uma resposta
Incapaz, impotente
Quero dizer mais e tão só
Que o que fervilha em mim
É algo a que nem quero chamar ódio.
Mas é esse quase o que cotejo
Quando penso que no homem
Está muita da resposta
Feita de uma sensibilidade
Que não foi ainda capaz de empunhar,
Sem discernimento para ver que o outro
Há-de ser sempre um igual a si,
Luciusantonius