Passarei por mim, e não ousarei a olhar para trás. Sim, abandonar-te-ei, eu-triste. Não me quero assim, tapando-me a visão do futuro. Ele é tão lindo e próspero, cheio de encantamentos e surpresas, adorarei desvendá-las. Mas tu, eu-triste, aprisionava-me em um ponto que nada tem a oferecer-me; lá nada se renova, hoje é igual a ontem, sempre. Esse lugar, que tu chamas de passado, estava me deixando cega, sabia? E eu, que tanto gosto de sonhar, já estava ficando sem imaginação para inventar coisas novas... Acho que nem eu mesma acredito mais nas minhas invenções. Por isso, deixo-te. E fica com esse teu passado bem longe de mim. Não quero mais sentir a mesma dor. Pois se for para sentir dor, que sejam novas dores, vindas de novas imaginações e dos sonhos que cultivarei dentro de mim. Está decidido. Não me olhes assim... Sim, sim também a amo, mas está chantageando-me para que não a deixe, não se enganes: EU RESISTIREI ATÉ O FIM! Tudo bem... Permito-lhe que me beije a face, afinal esteve comigo tanto tempo, por vezes cheguei até a pensar que tu eras eu plena. Ufa! Hoje acordei, e vou-me embora... eu-triste, nada mais existe de semelhante entre nós, entenda. Se queres, podes transformar-te em lembranças, aí poderás vir comigo. Não chores! Fizeste a tua escolha, eu também fiz a minha... Adeus, a felicidade me espera!
Gilquele Gomes de Araújo
Iguatu/Ceará/Brasil
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