Poemas : 

É jegue mesmo - Lizaldo Vieira

 
Burro de carga – Lizaldo Vieira Santos
É jegue ou jumento
Tá bom
É jegue mesmo
Também
Muito Ignorante
Peralta
Amigo das éguas
E cia
Sou lá do norte
E nordeste
Cabra danado
Da peste sim senhor
Dizem que prego peça
Pareço gente
Quando não aceito apanhar
Pior pra trabalhar
Quando a carga é muito pesada
Fico encabulado
Jogo tudo no coice
Me esparramo na estrada
Aí o dono com raiva
Toca fogo no rabo
Torço os beiços
Fico acuado
E não há remédio bom
Pra fazer mudar de ideia
Pode bater de matar
Nunca vou sair do lugar
Bicho de pouca sorte
Vivo de casa em casa
De deu em deu
Procurando um dono
Que melhor entenda suas artes
O diacho é que não há quem possa
Com esse tal de ser humano
Vivo levando carga e pancada
Nas orelhas e no lombo
Ninguém tem paciência comigo
Já fui carreiro
Carreguei agua
Lenha e barro
Tradutor de idioma
Chamam-me também de professor
Parteiro
Porteiro de cabaré
E advogado das éguas
Servi de montaria pra muitos e poucos
Gente do bem
E dominados do tinhoso
Acho que até que fiz o bem pra deus
Pelo menos o menino santo carregou
Na fuga para o Egito
Inclusive ele me fez pipi
Olho só a mancha em cruz deixada
Deixada em mim
Em tudo fica encabulado
Homenagem alguma nunca mereci
Por meus serviços prestados
Na seca
Carreguei água pro pote
Na roça
Puxei arado
Mais quando sentia fome
Caia no chicote
Amarravam-me no quintal
E davam restos de monturo
E papel velho como bocado
Chamam-me de jerico
E até pai dos burros
Só porque de hora em hora
Dou meu relincho em cima do ponteiro
Contudo
Cansei de tanta carga pesada
Tudo para eles
E para Nico nada
É muito trabalham sem nada ganhar...
Muita dureza
Só querem me ver trabalhar.
Burro de Carga
Ate manhoso da estrada
Sou apelidado
Naquele tempo
De vacas magras
Em que não tinha automóveis
Até o padre carreguei nas castas para a missa
Mais quando se deitava
Querendo um descanso
Diziam logo que era preguiça
Nisso
Sentia imensa amargura
Cadê meus merecimentos
Por tantas angustias e torturas
A maior homenagem pra mim
Veio lá do sertão
Quando mãe zefa e pai janjão
Tacaram o apelido de professor
Só porque meus versos davam lição do baba
De a até y
Todo mundo aprendia a estudar
Até versos jocosos
Fizeram comigo
Burrico manhoso
Enrolado
Bom pra ser castigado
Eu tenho um breve reconhecimento
Alcunhado namorador
Por certas freguesias
Que se cantava em versos e prosa
De noite e de dia
Se deus fez o homem pra dominar
Eu nada mais era um animal de quatro patas
Orelhudo
Pronto pra trabalhar
E apanhar
Dia e noite
Todos os dias
Pois sempre serei burro de carga
Comendo restos de beira de estrada
Sem direito a um pasto
Aqui ou em Madagascar
Bicho cabeça dura
Sou mesmo
Feio e encabulado
Imaginem se não fosse
Dizem até ser eu muito safado
Quando resolvo namorar
Vai pra lá coisas ruim
Deixa ao menos tirar o atraso
Pois sou cabra macho para danar
Quente feito o nordeste
Vê se não bota mau gosto
No meu jeito de gostar
Só porque sou bom no couro
Vai pra lá ovo goro
Pra sua praga não pegar


Q U E S E D A N E C U S T O d e V I D A - Lizaldo Vieira
Meu deus
Tá danado
É todo santo dia
O mesmo recado
La vem o noticiário
Com a
estória das bolsas
Do que sobe e desce no mercado
De Tóquio
Nasdaq
São paulo
É dólar que aume...

 
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Lizaaldo
 
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