Vindo do nada, empurraste a porta do meu corpo e entraste. Não sei da tua voz, do teu rosto, de ti inteiro ou em metade. Não conheço as tuas mãos ou as tuas formas. Arrebatador, violaste a minha vontade, falas com as minhas palavras, com o meu pensamento, sempre e só no silêncio mudo da página em branco.
Escreves em mim frases minhas que nunca te disse, pela minha voz que nunca te chegou. E tens-me invadido como ladrão que entra em quarto abandonado.
E assim, de repente, fazes parte da minha vida, sem respeito, sem licença, sem que saibas quem eu sou.
E eu deixo.
Quero.
Falas-me de amor, do que sentirias, do que farias, do quanto sou para ti.
Vem até mim, partilha comigo os meus lençóis, acaricia-os como se fossem a minha pele, aquece-os com o carinho e a ternura simples dos condenados pelo amor e fica. Do meu lado.