Vazio… Há vezes em que é mesmo essa a única coisa que consigo sentir. Em que a única coisa que me passa pela cabeça é aquele sentimento de insuficiência e impotência… talvez até desilusão e profunda tristeza por se ter como certo perdido algo de valioso por demais…
Ás vezes só me apetece chorar, e mesmo antes de poder tomar consciência disso, já me vão rolando as mais discretas lágrimas pela face abaixo… ás vezes nem tenho tempo para pensar em mais nada, senão para tentar suster aquele último soluço, e passar as mãos pelos olhos…
Foi aquele último abraço, foi aquela última lágrima que me viste verter, foi aquele beijo, e aquele aperto que nem todas as despedidas trazem implícitas. Foi o não saber como te dizer adeus, o não querer dizer-te adeus, e mesmo assim, saber que tinha do dizer…
Foi como que se tirasse um pouco de mim, e como que se ao mesmo tempo estivesse a dar oportunidade a mim própria de guardar uma das coisas mais puras e mágicas da minha vida. Que sem dúvida foi…
Foi como que se te tivesse a guardar numa caixinha em forma de coração, todos aqueles momentos só nossos, todos aqueles risos, sorrisos, e lágrimas de felicidade, que nos fizeram crescer e acreditar mais um pouco. Como que se tivesse a depositar nesta mesma caixinha toda aquela felicidade e confiança que me trouxeste e tudo aquilo de bom que vejo em ti, como que se isto fosse possível... selo agora esta caixa com o mais puro dos sorrisos que te podia dar, e uma lágrima, não de tristeza, mas de felicidade. Fecho-a, e guardo-a junto ao peito, e carrego-a sempre comigo para onde quer que vá… Porque tu vais estar sempre comigo…
Acendi a luz. Perdida no meio da tua ausência imaginei-te em cada bocadinho de sombra do meu quarto, vi-te no chão e nas paredes, nos móveis e no tecto, observei-te no global ao longe, e mais de perto preocupei-me em contemplar cada bocadinho de ti separadamente. Sem tempo, sem pressas.
Vi-te em cada bocadinho de luz que iluminava o meu espaço, senti-te presente para onde quer que olhasse, para onde quer que me virasse. Senti-te iluminar todos os meus sorrisos presentes nas fotos que tenho por aqui espalhadas, senti-te presente em cada olhar e em cada gesto meu. Senti-te presente aqui.
Apaguei a luz. Deitada no chão, já não eras a luz, já não eras a sombra, agora eras a escuridão que me abraçava e acalmava no meio do nada. Eras a minha segurança e o meu embalo. E como que por um sopro de magia senti-me quente, por dentro e por fora.
És a ponta do cigarro na escuridão, és aquela luzinha que permanece sobre o negro, és aquela certeza no meio do incerto, és aquele porto abrigo que deixa sempre um rasto de mistério e fantasia, és quem eu vejo agora a minha frente, és quem me sorri e me diz um segredo baixinho, és quem me tira as defesas e me abraça neste momento.
E.L.
2008/o1
E.L.