De pele trigueira e olhar firme
porte de gazela, pelos campos ao calor,
- ó Poeta -, fala, escreve, diz-me,
alguém há que se assemelhe à Senhora de Valle-Flor?!
Alta, esguia, perturbante,
passa por entre os nobres sem temor,
deixa a um canto a Senhora Duquesa de Brabante
a Senhora Marquesa de Valle-Flor.
Vestida de brocados e cetins,
pedras, pérolas, jades incolor,
desliza p'los salões ao toque dos clarins
a muy nobre dama Senhora de Valle-Flor.
Mas um dia, algo terrivel ocorreu,
chega-lhe a noticia que a deixa sem fulgor,
Jenny, sua filha, tão jovem, morreu!
Pobre e contristada Senhora de Valle-Flor.
O Marquês, deixara-a antes tão nova,
esse, a quem dera tanto amor,
agora, sua filha, 20 anos, vai à cova,
triste, no Palácio, a Senhora Marquesa de Valle-Flor.
A Rainha, Dona Amélia de Bragança,
vem ao Paço dar a mão à sua dor,
traz-lhe flores e um abraço de esperança:
"- Aceitai estas Rosas Senhora de Valle-Flor!"
De negro vestida, véu cobrindo o rosto,
tão ressentida, pálida, sem cor,
cai aos pés da rainha - tal o desgosto
da muy nobre Dama - a Senhora de Valle-Flor.
" - Alevantai-vos!" Diz a Rainha. "- Pobre mãe,
alembrai de Maria a sua dor,
sabeis agora o que é ser mãe - tão bem,
Senhora Marquesa de Valle- Flor."
"- É tão funda, Senhora de Bragança,
a dor que me assola o coração,
que não há Rosas nem esperança
que me tirem deste valle de solidão!"
Ainda hoje, à porta do jazigo da defunta,
se vê passar um vulto que liberta um odor
das Rosas que leva no regaço! Quem é? Alguém pergunta!
E há um suspiro que se escuta. É a Senhora de Valle-Flor!
Ricardo Maria Louro
Em Terena do Alentejo
Poema à Senhora D. Maria do Carmo Dias Constantino Ferreira Pinto Valle-Flor (1872-1952) Primeira Marquesa de Valle-Flor, e à sua filha, Jenny Valle-Flor, falecida muito jovem, ainda adolescente ...
Ricardo Maria Louro