Ó, meu Deus, que confusão!
Os males do coração
como confundem a mente!
Por quem rezei, afinal:
P'lo filho? por Portugal?
Ou pelos dois, igualmente?
Não sei, confesso, não sei!
Já tudo tanto troquei
que trago a vida trocada!
Entre a Pátria e o meu filho
eu faço tal trocadilho
que não entendo mais nada.
Rezo p'lo filho querido
mas vejo no meu sentido
meu Portugal a sangrar!
Em troca, sou compensada
porque a Pátria, mutilada,
anda por ele a rezar!
Neste mundo conturbado
voltámos ao triste fado
dos velhos tempos de então
quando, sem fazerem guerra,
os homens buscavam terra
pra fazerem a Nação.
Terra virgem, terra pura
como coisa ou criatura
quando só a Deus se prende.
E se tornou Portugal
como parte dum total
que não se dá, nem se vende.
Eu sou a mãe portuguesa!
Lusitana ou chinesa
ou seja lá de onde for
sou uma só, sou igual:
sou filha de Portugal
não tenho raça nem cor!
Venho de rezar a Deus
pelos sofrimentos meus
que uma dupla dor contém.
Esta dor que se partilha:
dor da Pátria, por ser filha!
Dor dos filhos, por ser Mãe!!
J. Barreto